07 fevereiro 2016

Caramelos

Pode-se dizer que 2016 começou me atropelando. Literalmente. Preferi não falar muito sobre o acidente por dois motivos: torpor e o fato de tentar me esconder de quem me atropelou. Calma, explicarei.

Estava menina Calincka, bem rainha do proletariado, atravessando a faixa de pedestres para pegar transporte público (queria estar pegando Adam Levine) e um carro para. Um motoqueiro segue e espero ele passar para continuar e: ROM POM POM ROM POM POM MAN DOWN! Foi tão rápido que eu só percebi que estava sentada no asfalto quando um homem  L I N D O me sacudiu. O que eu pensei? De longe vi meu ônibus e pensei “meus Deus perdi meu ônibus”. Coisa de pobre acidentado. A gente pensa em qualquer coisa, menos em milagres. A segunda coisa que eu pensei foi “que homem lindo”. A terceira foi “que homem lindo”. A quarta foi “que homem lindo”.

Depois de dez minutos sentada no asfalto, eu consegui perceber o que aconteceu. Tremia mais que criança fazendo escândalo no shopping e com medo de me mexer. Eu fui arremessada e bati no capô do carro, caindo sentada. Não sentia nada. Nem as pernas. Quando o cara que me atropelou perguntou meu nome e onde doía eu só consegui dizer: OIEEEEEEEEEE. SÉRIO. Depois falei meu nome e o que estava sentindo. Ele estava tão desesperado que fiquei com vergonha de ter sido atropelada. O TRÂNSITO PAROU. PESSOAS DESCERAM DOS CARROS PARA ME VER, O CARA LINDO QUE ME ATROPELOU SENTOU NO ASFALTO COMIGO E SEGUROU MINHA MÃO (e eu já estava nos shippando, já estava me perguntando quanto estava a passagem para Fernando de Noronha para a gente viajar), pessoas perguntavam o que aconteceu, pessoas diziam “ela está paralisada” e estava mesmo. Estava com medo de tentar mexer as pernas  e perceber não conseguia. A gente pensa que nunca vai acontecer. Nunca com a gente.

O cara não saiu do meu lado e ficou conversando comigo enquanto esperávamos os bombeiros (fui atingida na coluna e quadril, acharam melhor chamá-los) contou o que fazia, onde trabalhava, que se mudou de Brasília há um mês, casado e tinha um bebê chamado Murilo. Eu também conversei com ele e pedia desculpas. Ele me pedia perdão. Me levaram para o hospital, medicação, limpeza nos ferimentos, injeção, Raio X e: eu estava bem. Mainha foi chamada e quando ouvi a voz dela... Eu acho que nunca irei sentir tanto alívio como senti ao ouvir a voz dela. Meu porto seguro. Meu Sense8 no mundo.

O cara que me atropelou pediu perdão para a minha mãe, ele quase chorou. Mas não o culpe leitor, a faixa estava apagada, ele se mudou há um mês e eu deveria ter olhado para a esquerda quando a moto passou. Enfim, senti medo. Tive crises de choro e desativei as redes sociais para não me encontrarem. Eu queria esquecer, mas me lembrei que é escrevendo que esqueço. MAS A MELHOR PARTE É QUE: na hora do acidente eu estava com saquinho de caramelos na mão e eles ficaram espalhados no asfalto.


SIM, OS CURIOSOS CATARAM MEUS CARAMELOS E NÃO ME DEVOLVERAM.