Pode-se
dizer que 2016 começou me atropelando. Literalmente. Preferi não falar muito
sobre o acidente por dois motivos: torpor e o fato de tentar me esconder de
quem me atropelou. Calma, explicarei.
Estava
menina Calincka, bem rainha do proletariado, atravessando a faixa de pedestres
para pegar transporte público (queria estar pegando Adam Levine) e um carro
para. Um motoqueiro segue e espero ele passar para continuar e: ROM POM POM ROM
POM POM MAN DOWN! Foi tão rápido que eu só percebi que estava sentada no
asfalto quando um homem L I N D O me
sacudiu. O que eu pensei? De longe vi meu ônibus e pensei “meus Deus perdi meu
ônibus”. Coisa de pobre acidentado. A gente pensa em qualquer coisa, menos em
milagres. A segunda coisa que eu pensei foi “que homem lindo”. A terceira foi “que
homem lindo”. A quarta foi “que homem lindo”.
Depois
de dez minutos sentada no asfalto, eu consegui perceber o que aconteceu. Tremia
mais que criança fazendo escândalo no shopping e com medo de me mexer. Eu fui
arremessada e bati no capô do carro, caindo sentada. Não sentia nada. Nem as
pernas. Quando o cara que me atropelou perguntou meu nome e onde doía eu só consegui
dizer: OIEEEEEEEEEE. SÉRIO. Depois falei meu nome e o que estava sentindo. Ele
estava tão desesperado que fiquei com vergonha de ter sido atropelada. O
TRÂNSITO PAROU. PESSOAS DESCERAM DOS CARROS PARA ME VER, O CARA LINDO QUE ME
ATROPELOU SENTOU NO ASFALTO COMIGO E SEGUROU MINHA MÃO (e eu já estava nos
shippando, já estava me perguntando quanto estava a passagem para Fernando de
Noronha para a gente viajar), pessoas perguntavam o que aconteceu, pessoas
diziam “ela está paralisada” e estava mesmo. Estava com medo de tentar mexer as
pernas e perceber não conseguia. A gente
pensa que nunca vai acontecer. Nunca com a gente.
O
cara não saiu do meu lado e ficou conversando comigo enquanto esperávamos os
bombeiros (fui atingida na coluna e quadril, acharam melhor chamá-los) contou o
que fazia, onde trabalhava, que se mudou de Brasília há um mês, casado e tinha
um bebê chamado Murilo. Eu também conversei com ele e pedia desculpas. Ele me
pedia perdão. Me levaram para o hospital, medicação, limpeza nos ferimentos,
injeção, Raio X e: eu estava bem. Mainha foi chamada e quando ouvi a voz
dela... Eu acho que nunca irei sentir tanto alívio como senti ao ouvir a voz
dela. Meu porto seguro. Meu Sense8 no mundo.
O
cara que me atropelou pediu perdão para a minha mãe, ele quase chorou. Mas não
o culpe leitor, a faixa estava apagada, ele se mudou há um mês e eu deveria
ter olhado para a esquerda quando a moto passou. Enfim, senti medo. Tive crises
de choro e desativei as redes sociais para não me encontrarem. Eu queria
esquecer, mas me lembrei que é escrevendo que esqueço. MAS A MELHOR PARTE É
QUE: na hora do acidente eu estava com saquinho de caramelos na mão e eles
ficaram espalhados no asfalto.
SIM, OS CURIOSOS CATARAM
MEUS CARAMELOS E NÃO ME DEVOLVERAM.