08 fevereiro 2017

Uma desculpa para não desistir


- Quantas vezes você quis desistir?

O que te prende a este mundo quando tudo dá errado?  O que te faz seguir em frente mesmo quando as palavras atingem e tingem o seu coração e alma com uma cor escura? Como você se vira ao perceber que ainda duvidam da sua capacidade? Como sobreviver a uma sociedade que não te dá um espaço por você ser ou pensar diferente? E o que acontece quando o que você mais ama fazer e realizar é tratado com desdém? Você fica ou vai embora?  

Ontem eu arrumei as malas para ir. Eu quis desistir de tudo. Da vida, da alma, das pessoas que amo e daqueles que me têm como uma inspiração. Que controverso, não é? Uma inspiração às vezes não desiste. Elas ganham.  A cada segundo eu me dava uma desculpa para não desistir. Hoje eu tinha que ir para o Muay Thai e eu já tinha pagado as aulas. Não podia desistir das aulas e muito menos da turma que ainda não sabia o meu nome. Hoje eu também tinha que terminar de assistir uma série para comentar com alguns amigos e... Com quem eles iriam rir e onde achariam uma amiga que vive de desistências, mas torna tudo bonito e engraçado? Eu não podia desistir de ser essa amiga.

E o meu cachorro? Quem iria parar de fazer qualquer coisa para coçar aquele bucho estilo "A Grávida de Taubaté"? Eu não podia desistir dele também. E quem iria rir com a minha mãe sobre os nossos micos ou brigar com ela por esta assistindo TV FAMA e fazer ela mudar de canal? Eu tinha que ficar para mudar o canal.


Todos os dias eu procuro uma desculpa para ficar até tudo “ficar bem”.  Todos os dias eu desfaço as malas e me seguro firme. 

28 janeiro 2017

AS COSTAS DELE

Ele é um mistério para mim e ainda não decidi se devo dar dois passos à frente, me antecipando na descoberta do que quero saber ou ver. Foi platônico? Eu não sei dizer o momento exato em que o olhei e nos vi suando.

Não é amor, não é romantismo. Pela primeira vez, escrevo claramente que é desejo. É mais forte que a postura de boa moça que a sociedade espera de uma mulher do século XXI. Como ele ficaria sem a camisa surrada? Qual seria seu olhar ao perceber que estaria jogando a minha coxa esquerda em seu quadril para aproximá-lo mais? Ele fala sorrindo. Será que beija sorrindo também? Será que forçaria meus pulsos ao segurar com apenas uma mão? Consigo imaginar a tatuagem no meu pulso esquerdo sendo esmagada por suas mãos. O sorriso petulante estaria ali, tenho certeza.

Os movimentos seriam sentidos, sincronizados, alternados e... O sorriso, aquele petulante, estaria ali. A sua voz sairia rouca ao me perguntar algo, eu iria me explicar ou começar a falar demais. Talvez ouviria um “me beije” ou teria os lábios - marcados de mordidas - esmagados por seus lábios.

É engraçado perceber que não preciso saber da vida dele, rotina ou com quem se envolve para encará-lo. E apesar de perceber que ele não é notado, isso me basta.  Eu só queria ver as suas costas suadas, o sorriso no canto da boca, a respiração acelerada e como agiria quando eu levantasse da cama sem lhe dizer nada para ir embora.


E eu queria ver aquele olhar divertido, de quem está diante de alguém que impôs barreiras oportunas para deixar claro 'sem explicações, garoto. A gente se ver por aí'. Eu quero ver aquele olhar pensativo tentando adivinhar os pensamentos de uma garota pegando fogo.

14 janeiro 2017

Calincka e o Jab do Muay Thai


– Me leva Senhorrrrr.

Na virada de 2016 para 2017 eu fiz uma promessa e, por incrível que pareça estou cumprindo. Me matriculei no Muay Thai e só sabia que precisa de luvas para boxe, socar um saco de areia e receber um  cinturão de ouro.

Se a vida não fosse difícil não teria graça e nem cor, isso vale para a arte marcial tailandesa: o Muay Thai. Eu pensei que iria ser SUPERRRRRRRRRRR simples bater em algo e depois meditar. A minha vontade de desistir começou no primeiro dia de aula com o alongamento que parecia ser uma preparação para o inferno. Quando começou o aquecimento eu lembrei que não dava para descer as escadas porque já tinha pagado a mensalidade. Eu esperei em todos os segundos a minha alma sair do corpo para observar o pessoal correndo, fazendo abdominal, correndo de lado, mais abdominal, correndo batendo nos joelhos... MEU DEUS, O QUE EU ESTAVA FAZENDO ALI? É claro que eu lembrei da promessa, do valor das luvas, da paciência do professor e pensei “dessa vez não tem como dizer que um parente morreu porque o celular está longe”.

Fui empurrando o treino com minha barriguinha saliente e fui apresentada aos golpes do Muay Thai. Eu fazia os movimentos sem sincronia, olhava para o meu reflexo no espelho e via um caso perdido. Havia o fato de que eu estava em um ambiente hetero – eu não tenho certeza, mas eu gostei. E muito, mas só ali – e lá estavam meninos lindos presenciando o meu suor e os momentos em que me joguei no chão pedindo a Deus para me puxar. Na terceira aula eu já sabia alguns movimentos e golpes aplicados no Muay Thai, mas isso não significava que eu já tinha a minha dignidade de volta naquele local. As pessoas começaram a me reconhecer. “A menina de Fátima Bernades”, eu era filha da apresentadora e nem sabia. Nunca chegou pensão alimentícia na minha contar para comprar várias “brusinhas”.


Na minha sexta aula o professor nos convidou para um campeonato que é realizado em Petrolina-PE: o Luvão. Com respeito pedi ao professor para dar um depoimento. Eu sei que ali não era grupo de autoajuda, mas precisava falar. Comecei a falar que em vários momentos eu quis desistir. Contei que há dez anos eu não amarrava o cabelo por não saber lidar com o fato de poder ser observada e todos os dias eu estava naquele local sem maquiagem. Com olheiras, boca ressecada e com a franja pingando suor. Eu percebi que tinha acertado um golpe fatal em uma das minhas limitações sem luvas, sem usar o Jab – soco impulsionado frontalmente – sem querer desistir. É cedo, mas eu me sinto assim: http://migre.me/vSs14.

28 dezembro 2016

Imãs

Quando vi a queima de fogos de artifício, fechei os olhos e pedi “que eu consiga sobreviver”. Nos últimos sete anos eu faço esse pedido e o coloco como a meta da minha vida. Nunca peço mais que isso. A verdade é que se a gente sobreviver, podemos fazer metas, planos e dar os primeiros passos.

 A única certeza que tinha era sobre o meu trabalho, sobre a faculdade, sobre ser uma pessoa  melhor. Depois da virada do ano abracei meus pais, peguei uma garrafa de vinho e entrei em  um carro para ver meus amigos. Eu também tinha certeza sobre eles. Dançamos, disputamos ventiladores, as risadas eram altas e lindas e o que senti ali era mais do que uma reunião, mais do que uma celebração. Eu me encaixava, eu fazia parte. Eu agradeci por estar ali. Eles não sabem, mas os imãs na geladeira de um amigo me fizeram refletir – eu juro que ainda estava sóbria – sobre o que eu queria fazer em 2016.

O que eu queria? “Esse imã de Portugal me faz lembrar que eu deveria viajar e conhecer outras pessoas.” O imã da Espanha me lembrou a frase “mi casa, su casa”, eu deveria ser mais generosa e de alguma forma abrir os braços para acolher as pessoas. Fiquei alguns minutos relacionando imãs de geladeiras ao o que deveria fazer em 2016. Ok, eu já não estava mais sóbria. Eu não me lembro de mais nada quando saí de perto da geladeira, mas provavelmente estava tentando pular o muro da minha casa mesmo com as chaves na mão. Afinal, as festas terminam com a minha pessoa querendo pular o muro da minha casa. Essa atitude ocasional pode revelar quem eu era em outras reencarnações.


Em janeiro de 2016 eu fui atropelada na faixa de pedestre. Em fevereiro de 2016 meu pai se descuidou e perdeu  os dois remos do barco no meio do Rio São Francisco, mas minutos depois eles voltaram. Em abril de 2016 fui atormentada pelo ensino médio depois de dez anos. Nos últimos meses estou fazendo exatamente o que desejei no ano novo. “Eu quero sobreviver.” E estou. Sem trapaças, sem falar mal das pessoas – desconfie de quem fala mal de outras pessoas para você  –  e arcando com as  consequências das escolhas que fiz. Eu continuarei sobrevivendo. 


11 julho 2016

A pausa

Eu simplesmente não conseguia escrever. Alguns acreditam que seja um bloqueio criativo, mas eu sabia que era mais. Acreditei que não conseguiria mais escrever e expor o que eu sentia em um mero texto. Rústico, sem lapidação e brotado do medo. É assim que volto a escrever.

Em algum momento  acreditei que não conseguiria mais escrever e compartilhar para e com as pessoas, mas como? Como não escrever se é o que sou? Sou feita de metades, metade escrita e a outra partida. O medo de desistir impulsionou o que tenho mais de belo: estas palavras e pensamentos. É bom sentir que algo está escapando de você porque é neste momento em que lutamos de verdade. Reivindicamos o que é nosso, nos agarramos ao fio da esperança para que nada escape.  Eu não deixaria isto acontecer. Não mais.

É claro que eu precisava acreditar em mim e no que queria.  Ninguém poderia fazer isto por mim e ouvir “você consegue” sem realmente acreditar.  Algo que não se deve fazer ou sentir. Impedida de estacionar no meu bloqueio criativo, ouço claramente a minha intuição e sigo-a. Como? Eu sabia que precisaria primeiro chorar tudo o que tinha para chorar. Lavei a alma ou foi a alma que me lavou? Eu comecei a repetir para mim mesma que era normal ficar sem escrever. Alguns artistas passam anos sem produzir algo novo por acreditarem no “bloqueio criativo”, então eu fiaria bem. “São só algumas semanas, Calincka.”

A todo o momento acreditei que precisava sentir inspirada, mas eu não procuro a inspiração, apenas permito que ela me encontre em qualquer tempo e de qualquer forma. Ela sempre me alcança, creio.  Desta vez ela me alcançou depois de semanas porque eu não consigo me obrigar a dizer algo. Eu cultuo silêncios também.


A minha mente estava preocupada em que caminho seguir depois de TUDO. E o TUDO são semanas de angústias por desenterrar antigos segredos e medos. Por fim, estou de volta porque a minha mente e alma não são prisioneiras, não são feitas de neblina para não serem vistas claramente. Libertam-se para que a evolução possa me alcançar. 

01 junho 2016

Match com o amor próprio

Passarei o Dia dos Namorados sozinha. É óbvio que  eu gostaria de receber mimos, declarações bregas, ursos, sair para jantar ou ganhar um balão em formato de coração.

Eu não sou aquelas mulheres que torcem pelo fim do seu relacionamento por estar sozinha. Às vezes eu sou a maior fã des casais porque alguns acabam sendo uma inspiração para mim. Poucos sabem, mas quando terminam estão terminando comigo também. E eu sofro junto também. É, eu me apego aos casais e principalmente aos de séries. 

Estou sozinha porque não exijo muito ou porque precisam ser belos, recatados e do lar. Estou sozinha porque não consigo paquerar, sempre serei insegura porque acabo comparando a minha aparência com a de Megan Fox. Eu desisto antes de tentar, eu estrago o momento perfeito ao perguntar se eu falei algo errado. Eu afasto antes de começar ou avanço com um exército de inseguranças e medos. Ao terminar o encontro eu digo ‘adeus’ mentalmente porque eu passaria a noite chorando ao receber o ‘adeus’ primeiro. Eu estou sozinha porque o meu coração anda adormecido, porque eu acho que teriam vergonha de me apresentarem em almoços de famílias, porque eu sempre complico tudo e por pensar “não está olhando para mim, há mulheres mais bonitas que eu aqui”.

Eu não nasci com as inseguranças e o medo. Eu desenvolvi por causa de frases maldosas. E eu continuarei nesta condição porque me falta coragem ao pensar que posso ser rejeitada outras vezes. Então eu me protejo com a solidão. Mas, leitor, eu não gosto de me sentir sozinha ou pensar que estão me fazendo de piada (leia-se o primeiro encontro) mais uma vez. Não estou reclamando porque eu tenho que estar me relacionando com o amor próprio.  Dei match com o amor próprio, mas não conversamos. Ele espera que eu mande uma mensagem, mas eu não consigo. O que posso dizer? Quer marcar um dia para você me ensinar a ter você? Quer marcar um dia para você me pedir em namoro? Quer marcar um dia para eu acreditar que sou maravilhosa, mesmo quando dizem o contrário, e engraçada?

Dizem que o “meu cara” está por aí. Se for verdade, que me encontre logo porque está frio e eu queria ter alguém para abraçar sem explicar o motivo do abraço.







29 maio 2016

A culpa não é da vítima

A CULPA NÃO É DA VÍTIMA.  A CULPA NÃO É DA VÍTIMA.  A CULPA NÃO É DA VÍTIMA.  A CULPA NÃO É DA VÍTIMA.  A CULPA NÃO É DA VÍTIMA.  A CULPA NÃO É DA VÍTIMA.  A CULPA NÃO É DA VÍTIMA.  

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10 maio 2016

Liberté

Fiquei certo tempo sem escrever porque precisava saber como eu estava. Precisava saber se havia mágoa, raiva ou dor por causa das últimas semanas e meses. Havia algo, era leve e não me assombrava mais. A liberdade estava sorrindo para mim.

Eu pouco escrevia sobre a escola, não queria lembrar-me de suas cores, do hino, das orações que pediam para os alunos rezarem para dar início a uma manhã com vários tipos de torturas psicológicas realizadas por colegas de sala. Por muito tempo eu guardei o que doía para disfarçar com alegria, bom humor, gentileza e histórias. Por muito tempo eu guardei, mas hoje eu escrevo me sentindo liberta. Fecharam-se várias portas diante de mim durante a adolescência e hoje não sei por qual janela passar... São muitas e eu agradeço. Eu preciso de concentração para ter a certeza de como estou trilhando o meu caminho, mas eu tenho uma boa perspectiva do que virá.

Eu passei semanas refletindo após relatar, em rede nacional, o bullying que me perseguiu até o momento do meu “ei miga, vamos parar porque eu não tenho mais dezessete anos e nem você”. Fiz várias escolhas dentro de uma semana e a mais bonita foi ficar e lutar por todos os que não possuem voz, por todos que me apoiaram e principalmente por mim mesma. Eu estava lutando para me libertar de um passado que não me atrevia verificar. Por muito tempo eu fugia de rostos na cidade, não frequentava alguns lugares e fingia que não ouvia alguns chamando o meu nome. Mas quer saber? Eu não tenho mais medo e vergonha de dizer que a escola foi um dos piores momentos da minha vida. Eu precisava passar por tudo aquilo para me transformar no que sou hoje. Como sou? Linda, inteligente, intensa, criativa, engraçada, corajosa e de humanas!!!


Olhe, eu consegui dizer pela primeira vez em um texto que: acho-me linda. E eu abri um portal (momento séries) para que todos os demônios saíssem e ficar longe de mim. Eu consegui realmente me livrar da raiva, da mágoa e da tristeza que sentia por não ter uma história legal sobre o ensino médio para contar. Mas eu terei outras histórias com muito “micão tour” e gostosas gargalhadas para compartilhar com vocês. Me aguardem. 

Ah, esqueci de falar “INHAAAAAAÍ PESSOAL”.

07 abril 2016

CARTA ABERTA A CAMILLA CRATEÚS

 Oi minha irmã, você sabe o que está acontecendo? O ensino médio voltou. Eu fui tratada no ensino médio como se eu não devesse existir. Por não estar dentro do padrão de beleza da sociedade e dos colegas que estudaram comigo. Eu não podia dividir a minha dor com mainha e com painho porque eles estavam tentando recomeçar depois da sua partida.

Eu só queria contar, sabe? Eu queria que eles soubessem o que estavam fazendo comigo no colégio. O engraçado é que eles foram ao seu velório. A TURMA ESTEVE NO SEU VELÓRIO. Eles me abraçaram e rezaram um “PAI NOSSO” segurando a minha mão. Eu não queria fazer nada disso, mas painho estava chorando e eu nunca o tinha visto chorar. Então eu pedi forças para conseguir ir até o final do seu enterro sem expulsar ou partir para agressão física.   Eu pensei em nossos pais e pensei que eles até me sedariam. Os anos seguintes me fez sentir inveja de você. Você estava em paz e eu também queria o mesmo. Eu queria sua paz eterna, eu precisava. Eu lanchava no banheiro e acho que você sabia. Todo o dia levantava da cama para ir ao inferno na terra e pensava “enterraram a filha errada”. Todos os dias eu ouvia palavras degradantes e um dia eu decidi me enforcar. Não deu certo.  Foi você que fez mainha voltar para pegar as chaves? Se sim, obrigada.

Eu passei a usar outra forma para sair do colégio. Eu não estudava. Talvez o professor de matemática ache que sou burra de verdade. E então, me colocaram na “aula de reforço”. VOCÊ É INSISTENTE CAMILLA, AVE MARIA. QUE INSISTÊNCIA DE ME FORÇAR A TIRAR NOTA BOA. Obrigada.  Eu  também não falei nada porque eu não queria ser a “coitadinha”.  E NUNCA SEREI. Mas eu queria ser esquecida. O que eu fiz Camilla? Porque a minha aparência incomodava tanto Camilla? Nem em forma de desenho eu entenderei. Eu saí do ensino médio e chorei de alegria. Passei em Jornalismo em 2010 e mudei a minha aparência. Emagreci 25 kg. Mas ainda doía, sabe? Ainda era doloroso lembrar-me de pessoas as quais nunca humilhei. Eu substituí os pensamentos suicidas com a faculdade. Camilla, você acompanhou o meu relacionamento de quatro anos? Se sim, saiba que eu vivi aquela aventura por mim e por você. Mas saiba que reencontrei o seu namorado de adolescência. Ele está orgulhoso por minha coragem. E isto basta.  

Quando o relacionamento acabou eu pensei que nunca mais iria ser amada. As inseguranças voltaram. E mais uma vez eu tentei pôr um fim na minha existência. Não por ele, mas por medo de ser verdade tudo o que me disseram no ensino médio. Eu superei com ajuda psicológica, dos amigos e dos familiares. Eu fiquei em paz viva. Mas eu engordei, no final de 2014 e 2015, porque descobri ter tireoide. Eu sabia que não era a minha culpa e sim do meu corpo. E você sabe, Camilla, que não conseguia dar entrevistas, sair em fotos de corpo inteiro e  arriscar a conhecer outras pessoas. Conhece meus amigos? Eles são lindos, trabalhadores, inteligentes e lutadores. Estão comigo, como você.

Eu não sabia que o ensino médio voltaria. Eu não sabia que teria que ler coisas horríveis ao meu respeito, mais uma vez. O PASSADO ME FAZENDO ARQUITETAR MAIS UMA FORMA DE QUERER MORRER. Já havia um plano, Camilla. Quando li tudo, eu já tinha um plano. O DESABAFO NO MEU PERFIL ERA UM ADEUS. Eu não queria passar por aquilo novamente e estava tentando explicar o motivo. MAS VOCÊ CONSEGUIU QUE A PUBLICAÇÃO VIRALIZASSE E SAÍSSE DO MEU CONTROLE.

Me vi amparada. Me vi querida. Me vi sendo apoiada e eu parei para refletir. Seria egoísmo, seria injusto acabar com a dor com tanto apoio e carinho. Seria anormal, doentio, incorreto e infeliz. Eu poderia punir os algozes tirando deles a reputação de “boa mãe”, “boa aluna”, “bom filho”, “bom marido” e “bom amigo” continuando viva. Eu descobri que você burla todos os meus planos, não é? Você é a menina que roubava planos ruins. Obrigada. Agora eu  cuidarei do meu corpo, mente e coração. O resto? Eu não me importo porque não há coisa pior que saber que não terei sobrinhos,  que não terei você no meu casamento ou gritando meu nome no meio da platéia enquanto eu ergo o meu diploma, livro, filhos. O QUE FIZERAM COMIGO NÃO É NADA QUANDO PENSO QUE VOCÊ FOI EMBORA. Eu te amo. Eu ficarei viva e te prometo que todo apoio que obtive será recompensado com a militância e ajudando outras pessoas. Eu te amo.

24 março 2016

O Cirque du Soleil e a mídia

O Cirque du Soleil é uma companhia circense privada. Fundada em 1984 por dois artistas de rua, Guy Laliberté e Daniel Gauthier, a companhia apresenta espetáculos inovadores, performances com histórias que emocionam, além de despertar várias sensações, ao mesmo tempo, por todo o seu corpo e mente.

Está parecendo que eu já assisti a um espetáculo do Cirque du Soleil, mas  infelizmente eu nunca tive esta oportunidade ou sorte. A primeira vez que vi um vídeo mostrando trechos de várias performances da companhia me emocionei e lembro-me de pensar “meu Deus, nem forró eu sei dançar... Imagina fazer o que estes artistas fazem”. É, eu não sei dançar forró e não sei se este fato é bom ou ruim, mas vamos voltar a falar sobre o Cirque. Não há picadeiros e o grupo contém artistas de quarenta nacionalidades, a trupe possui belíssimas trilhas sonoras e algumas fantasias parecem ser tiradas dos contos de fadas. Cada espetáculo tem música ao vivo e te faz pensar “como seria se eu fizesse parte do espetáculo?”. Com certeza seria lindo. Viajar pelo mundo levando ALEGRIA.

Mas eu faço parte de um espetáculo que não é inovador, que explora a dor, a população carente e contam suas histórias como querem ao ponto de inverter e inventar, alienar aqueles que não possuem acesso a outras fontes de informações tornando-se, eternamente, manipulados. É o espetáculo da mídia. Percebo a todo o momento um picadeiro nos telejornais, as performances são de fazer você agradecer a Deus por não conhecer o artista performático que é treinado para te “informar” e fazer você acreditar.  Mas não se engane, eles são pagos para acreditarem também. Existe algo mais triste que receber dinheiro para acreditar em algo que não existe? É como ser paga para amar alguém que você nunca amaria.

É um espetáculo torturante e vergonhoso. Pobre por sua política interna, entediante ao perceber que as expressões no rosto dos performáticos da mídia querem convencer que a notícia é, em sua totalidade, verdadeira e que jamais seria alterada. Eu entendo estes “artistas”.  Há contas para pagar, impostos, filhos para sustentarem. São trapezistas e bailarinos do pior espetáculo que há, mas eles possuem escolhas. Todos possuem escolhas. Afinal, tivemos as mesmas disciplinas na graduação, ouvimos os professores criticarem afiadamente a manipulação e sensacionalismo nos meios de comunicação.


Eu sinto pelo ingresso que você paga para ser mal informado ou enganado. Eu sinto muito por cada notícia editada e com informações omitidas. Você jamais verá o que é um espetáculo de verdade até conhecer o Cirque Du Soleil.  E todos os dias você estará sendo massinha de modelar nas mãos da mídia.