14 janeiro 2017

Calincka e o Jab do Muay Thai


– Me leva Senhorrrrr.

Na virada de 2016 para 2017 eu fiz uma promessa e, por incrível que pareça estou cumprindo. Me matriculei no Muay Thai e só sabia que precisa de luvas para boxe, socar um saco de areia e receber um  cinturão de ouro.

Se a vida não fosse difícil não teria graça e nem cor, isso vale para a arte marcial tailandesa: o Muay Thai. Eu pensei que iria ser SUPERRRRRRRRRRR simples bater em algo e depois meditar. A minha vontade de desistir começou no primeiro dia de aula com o alongamento que parecia ser uma preparação para o inferno. Quando começou o aquecimento eu lembrei que não dava para descer as escadas porque já tinha pagado a mensalidade. Eu esperei em todos os segundos a minha alma sair do corpo para observar o pessoal correndo, fazendo abdominal, correndo de lado, mais abdominal, correndo batendo nos joelhos... MEU DEUS, O QUE EU ESTAVA FAZENDO ALI? É claro que eu lembrei da promessa, do valor das luvas, da paciência do professor e pensei “dessa vez não tem como dizer que um parente morreu porque o celular está longe”.

Fui empurrando o treino com minha barriguinha saliente e fui apresentada aos golpes do Muay Thai. Eu fazia os movimentos sem sincronia, olhava para o meu reflexo no espelho e via um caso perdido. Havia o fato de que eu estava em um ambiente hetero – eu não tenho certeza, mas eu gostei. E muito, mas só ali – e lá estavam meninos lindos presenciando o meu suor e os momentos em que me joguei no chão pedindo a Deus para me puxar. Na terceira aula eu já sabia alguns movimentos e golpes aplicados no Muay Thai, mas isso não significava que eu já tinha a minha dignidade de volta naquele local. As pessoas começaram a me reconhecer. “A menina de Fátima Bernades”, eu era filha da apresentadora e nem sabia. Nunca chegou pensão alimentícia na minha contar para comprar várias “brusinhas”.


Na minha sexta aula o professor nos convidou para um campeonato que é realizado em Petrolina-PE: o Luvão. Com respeito pedi ao professor para dar um depoimento. Eu sei que ali não era grupo de autoajuda, mas precisava falar. Comecei a falar que em vários momentos eu quis desistir. Contei que há dez anos eu não amarrava o cabelo por não saber lidar com o fato de poder ser observada e todos os dias eu estava naquele local sem maquiagem. Com olheiras, boca ressecada e com a franja pingando suor. Eu percebi que tinha acertado um golpe fatal em uma das minhas limitações sem luvas, sem usar o Jab – soco impulsionado frontalmente – sem querer desistir. É cedo, mas eu me sinto assim: http://migre.me/vSs14.

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