– Me leva Senhorrrrr.
Na virada de 2016 para 2017 eu
fiz uma promessa e, por incrível que pareça estou cumprindo. Me matriculei no
Muay Thai e só sabia que precisa de luvas para boxe, socar um saco de areia e
receber um cinturão de ouro.
Se a vida não fosse difícil não
teria graça e nem cor, isso vale para a arte marcial tailandesa: o Muay Thai.
Eu pensei que iria ser SUPERRRRRRRRRRR simples bater em algo e depois meditar.
A minha vontade de desistir começou no primeiro dia de aula com o alongamento
que parecia ser uma preparação para o inferno. Quando começou o aquecimento eu
lembrei que não dava para descer as escadas porque já tinha pagado a
mensalidade. Eu esperei em todos os segundos a minha alma sair do corpo para observar o pessoal correndo, fazendo abdominal, correndo de lado, mais abdominal,
correndo batendo nos joelhos... MEU DEUS, O QUE EU ESTAVA FAZENDO ALI? É claro
que eu lembrei da promessa, do valor das luvas, da paciência do professor e
pensei “dessa vez não tem como dizer que um parente morreu porque o celular
está longe”.
Fui empurrando o treino com minha
barriguinha saliente e fui apresentada aos golpes do Muay Thai. Eu fazia os
movimentos sem sincronia, olhava para o meu reflexo no espelho e via um caso
perdido. Havia o fato de que eu estava em um ambiente hetero – eu não tenho
certeza, mas eu gostei. E muito, mas só ali – e lá estavam meninos lindos presenciando o meu
suor e os momentos em que me joguei no chão pedindo a Deus para me puxar. Na
terceira aula eu já sabia alguns movimentos e golpes aplicados no Muay Thai, mas
isso não significava que eu já tinha a minha dignidade de volta naquele local.
As pessoas começaram a me reconhecer. “A menina de Fátima Bernades”, eu era
filha da apresentadora e nem sabia. Nunca chegou pensão alimentícia na minha
contar para comprar várias “brusinhas”.
Na minha sexta aula o professor
nos convidou para um campeonato que é realizado em Petrolina-PE: o Luvão. Com respeito
pedi ao professor para dar um depoimento. Eu sei que ali não era grupo de
autoajuda, mas precisava falar. Comecei a falar que em vários momentos eu quis
desistir. Contei que há dez anos eu não amarrava o cabelo por não saber lidar
com o fato de poder ser observada e todos os dias eu estava naquele local sem
maquiagem. Com olheiras, boca ressecada e com a franja pingando suor. Eu
percebi que tinha acertado um golpe fatal em uma das minhas limitações sem
luvas, sem usar o Jab – soco impulsionado frontalmente – sem querer desistir. É
cedo, mas eu me sinto assim: http://migre.me/vSs14.
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