01 março 2016

As tentativas

Antes de contar, quero que saibam que apaguei três vezes os parágrafos que digitei. Pergunto-me se isto, a minha história, vai me prejudicar profissionalmente ou amorosamente. Pensei bastante antes de escrever, mas preciso compartilhar. EU NÃO SEI. TALVEZ EU DEVESSE ESCREVER AS MATÉRIAS QUE MEU “CHEFY” MANDOU.

Já estamos aqui, não é? E eu sei que alguns amigos dirão que eu não deveria ter escrito, mas esta história faz parte de mim, ela será carregada comigo, me acompanhará como uma sombra. Eu nunca tive autoestima, desde a escola, nunca me achei bonita porque muitos não achavam. Não conseguia dizer uma qualidade sobre mim. Na verdade, eu não sabia que tinha qualidades. Todos os dias, por todos os anos na escola, eu levantava da cama e chorava no banho porque sabia que iria ser maltratada por colegas. Apelidos,  omissão de professores e coordenadores e humilhações faziam parte do meu cotidiano. Eu queria acabar com a tristeza que sentia, a dor, as vozes que repetiam o que nenhuma garota merece ouvir.

Eu tentei prosseguir, mas eu estava tão cansada. Eu só queria dormir. Se eu dormisse tudo se resolveria. As pessoas não precisariam ter pena de mim, me  humilhar ou me ignorar por não ser a mais bonita do colégio. Aos 13 anos eu tomei 27 comprimidos desconhecidos por mim. Eram comprimidos para dor que a minha irmã utilizava. Eu dormi, mas acordei depois  que  uma vizinha e minha mãe colocaram álcool no meu nariz. Inalei e chorei muito. Mainha se culpava, eu acordei mais triste. Aos 14 anos perdi minha irmã e tive que sobreviver com a tristeza e a dor da perda. Os planos de me curar da tristeza foram embora como ela.

No ensino médio me interessei por garotos que me fizeram virar “a escala de feiúra”. Eu era o termômetro que os meninos utilizavam para dizer se uma garota era bonita. Quantas vezes lanchei no banheiro? Todos os dias.  Quantas festas no colégio eu fui? Nenhuma. Quantas vezes eu pedia chorando a mainha para ficar em casa? Todos os dias. Mas eu não dizia o motivo, eu não podia medir a dor dela com a minha. Vivi no automático por mais sete anos, até me apaixonar. Entrei na faculdade, fiz amigos, namorei, era considerada engraçada, amiga, generosa... Com o término, eu voltei todas as casas do jogo e perdi a segurança que tinha conquistado. Eu voltei para o fundo do poço e ganhei cortes profundos nos pulsos. Mais uma vez, minha mãe estava lá para estancar o sangue e me assistir a levar 17 pontos no pulso esquerdo e 9 no direito.



Eu achava que morrer era a solução. Até conhecer uma ciranda de amigos (gays) que me fizeram ver o melhor de mim. ELES ACREDITAM EM MIM. APOSTAM EM MIM. APONTAM OS ERROS. ELOGIAM OS ACERTOS. PRECISAM DA MINHA ALEGRIA. Ele s ressuscitaram a minha alma, a minha alegria, a minha criatividade. Eles fazem parte das minhas orações e nem sabem que eu faço preces. Eu só posso dizer: obrigada.  

Um comentário:

  1. Não sou gay mas tô nesse time que torce por ti e te acha incrível, generosa e dedicada. Tu nem sabe mas mtas vezes os posts daqui salvaram meu dia. Segue em frente. Bjos

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