Quando
vi a queima de fogos de artifício, fechei os olhos e pedi “que eu consiga
sobreviver”. Nos últimos sete anos eu faço esse pedido e o coloco como a meta
da minha vida. Nunca peço mais que isso. A verdade é que se a gente sobreviver,
podemos fazer metas, planos e dar os primeiros passos.
A única certeza que tinha era sobre o meu
trabalho, sobre a faculdade, sobre ser uma pessoa melhor. Depois da virada do ano abracei meus
pais, peguei uma garrafa de vinho e entrei em um carro para ver meus amigos.
Eu também tinha certeza sobre eles. Dançamos, disputamos ventiladores, as
risadas eram altas e lindas e o que senti ali era mais do que uma reunião, mais
do que uma celebração. Eu me encaixava, eu fazia parte. Eu agradeci por estar
ali. Eles não sabem, mas os imãs na geladeira de um amigo me fizeram refletir –
eu juro que ainda estava sóbria – sobre o que eu queria fazer em 2016.
O que
eu queria? “Esse imã de Portugal me faz lembrar que eu deveria viajar e
conhecer outras pessoas.” O imã da Espanha me lembrou a frase “mi casa, su casa”,
eu deveria ser mais generosa e de alguma forma abrir os braços para acolher as
pessoas. Fiquei alguns minutos relacionando imãs de geladeiras ao o que deveria
fazer em 2016. Ok, eu já não estava mais sóbria. Eu não me lembro de mais nada
quando saí de perto da geladeira, mas provavelmente estava tentando pular o
muro da minha casa mesmo com as chaves na mão. Afinal, as festas terminam com a
minha pessoa querendo pular o muro da minha casa. Essa atitude ocasional pode
revelar quem eu era em outras reencarnações.
Em
janeiro de 2016 eu fui atropelada na faixa de pedestre. Em fevereiro de 2016 meu
pai se descuidou e perdeu os dois remos
do barco no meio do Rio São Francisco, mas minutos depois eles voltaram. Em
abril de 2016 fui atormentada pelo ensino médio depois de dez anos. Nos últimos
meses estou fazendo exatamente o que desejei no ano novo. “Eu quero sobreviver.”
E estou. Sem trapaças, sem falar mal das pessoas – desconfie de quem fala mal
de outras pessoas para você – e arcando com as consequências das escolhas que fiz. Eu continuarei
sobrevivendo.