- Vou fugir de casa.
Certa vez li uma entrevista
com o cantor Renato Russo, eu tinha quatorze anos e o que ele falou sobre a
letra da música “Pais e filhos” nunca foi apagado da minha mente. Uma
pré-adolescente não possuía o poder de análise crítica para entender que a
letra era sobre um suicídio e a relação entre pais e filhos em diversos
aspectos.
Uma mensagem forte. Uma
garota que se jogou da janela do quinto andar. Classe média alta. O filho quer fugir de casa. Pais divorciados.
Relações perturbadas e sem compreensão. A criança que quer colo. O filho que
vai voltar depois das seis. A criança que mora na rua e a que passou por
diversos lares adotivos. Renato já cantava a realidade antes de eu nascer,
aprender a ler e escrever. Renato Russo gritava seus sentimentos em forma de
canções e, infelizmente, não presenciou a luta sangrenta das famílias homoafetivas
que querem ser um lar. Torna-se um lar. Uma batalha injusta para quem quer
apenas acolher um ser pequenino e poder estar nas definições sobre família.
Imaginem quantas
crianças estariam fora de centros de reabilitação por se envolverem em crimes ou com as drogas. Imaginem
quantos adolescentes poderiam ter uma educação digna e amor sem tentar o suicídio.
Agora multiplique. Acho que os componentes da Câmara dos Deputados do Brasil, que aprovou em setembro a
definição de família no Estatuto da Família, não sabem multiplicar e/ou
raciocinar. Ganham um dos maiores salários do país e fazem as leis que querem... Aprovam aquelas do próprio interesse. Por qual motivo iriam se importar com a criança que só quer uma casa porque os
pais biológicos foram negligentes? Por qual motivo iriam se importar com a família
formada por duas mães ou dois pais desejarem adotar uma criança? Por qual
motivo você continuará esquecendo que garotas se jogam do quinto andar todos os
dias e que há crianças morando na rua?
Esperei pacientemente
pelo Dia Das Crianças para dizer que SÓ A FELICIDADE DA SUA CRIANÇA NÃO BASTA!
Esperei pacientemente para te acusar hoje, 12 de outubro, por negligenciar
apoio a quem quer um lar, ser feliz, independentemente de serem dois pais ou
duas mães.
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