26 outubro 2015

A menina que colecionava combinações


Sentadas na praça de alimentação do shopping, tentando atualizar-se com os acontecimentos da vida após a separação da faculdade, duas amigas riem, reclamam e falam sobre homens. Parece roteiro de filme para pré-adolescentes, mas pode ser um dia. Vai saber, né?

As duas amigas saudosas gargalham com novidades pacatas, mas significantes. Em meio a tantos temas elas falam sobre um aplicativo de relacionamento e as conversas que foram obrigadas a presenciarem (arrastou a foto para o lado direito, agora aguente) ou finalizarem. Até que, infelizmente ou não, uma comenta sobre a existência de um outro aplicativo que anula as fronteiras do aplicativo de relacionamentos chamado: TINDER. OH, A TECNOLOGIA AJUDANDO A ILUDIR AS PESSOAS!!! COMO SE O SER HUMANO NÃO PUDESSE REALIZAR ESSA TAREFA SOZINHO!!! Impressionante como a minha curiosidade não tem um botão STOP. Acho que já me entreguei, né? Ok, já fiz revelações piores...

Acho que não é preciso dizer que baixei o aplicativo, ativei a localização falsa e já estava no: RIO DE JANEIRO. Critério de escolha? Nenhum. Começou sem critérios e depois evoluiu para apenas uma finalidade: DAR GOSTOSAS GARGALHADAS E CONTAR ISSO EM FORMA DE TEXTO. Sem ao menos piscar eu estava no Rio Grande do Sul entre as cidades: Santa Maria, Cachoeira do Sul, Bagé, São Gabriel... Até aí tudo bem, mas aí eu fui para outros Estados e depois fiz viagens internacionais com o TOUR DAS GOSTOSAS GARGALHADAS™. EU SEI, É LOUCURA. FOI LOUCURA. AINDA É, MAS A CADA COMBINAÇÃO COM HOMENS LINDOS... Eu só conseguia sorrir e me perguntar “Deus, o que está acontecendo?”. Pensei que iria me safar ilesa só olhando, mas AS MENSAGENS COMEÇARAM A LOTAR A TELA DE NOTIFICAÇÕES DO CELULAR. Eu coloquei o endereço deste bendito blog para perceberem que de mim só sairia um texto, mas o ser humano aprendeu a esperar pelos filmes em vez de ler os livros ou blogs.

COMO EU IRIA RESPONDER A TANTO HOMEM QUE EU NÃO ESTAVA NA CIDADE DELES? Ok, respondendo com “oi, eu não estou na sua cidade. É só um aplicativo que engana a localização e aí permite que eu possa dar match com você. Inclusive estou em Pernambuco com várias coisas esperando ser feitas, mas eu precisava dar uma olhada em outro Estado e fingir que nada aconteceu. Só que eu resolvi te contar porque você tem a cara do pai dos meus futuros filhos”. MAS É CLARO QUE EU NÃO IRIA FAZER ISSO TENDO A OPÇÃO: negar as aparências, disfarçando as evidências. Eu comecei a criar histórias magníficas. A cada  “o que uma pernambucana faz por aqui?” eu tinha vontade de dizer que estava vendendo a minha arte ou que era dançarina do Aviões do Forró. Respostas básicas. Parecia que um nordestino andando por outra região era crime e suspeito (apesar de eu ter um nome incomum, usar franja aos 24 anos e baixar um aplicativo que enganava a minha localização). EU SEI QUE MENTI DEMAIS, MAS EU RIA TANTO QUE NÃO ME SINTO CULPADA ATÉ HOJE. Me perdoem, mas cada conversa me fez ver vários lados do ser humano e aprender algumas coisas. Sim, dá para tirar lição moral!

Conversei com dois gaúchos  desconfiados e que acreditam na imagem da eterna pernambucana andando  com lata d’água na cabeça. Tudo bem, eu não os culpo por isso. Eu ainda acredito que o chimarrão tem cara de chá de boldo. Estamos quites! Os cariocas são simpáticos e adoram dizer “você é gostosa” a cada frase que soltam. Mesmo você não estando no cardápio de uma sorveteria, a frase realmente te faz parecer que você é GOS-TOSA. Os mineiros são... São... QUIETIN. Os paulistas já chegam “oi me encontra lá nas filmagens de Top Gun. Sou o que você quer”. SÉRIO. EU RECEBI ESSA. E o motivo de eu não ir ao Nordeste? Muito quente para fazer peregrinação por lá.

Participei de conversas geniais, insanas, machistas, delicadas (tinha acabado de perder o pai estava no Tinder para achar uma psicóloga. SIM, ISSO MESMO) e sinceras. Eu li de tudo um pouco. Conheci um cara que tem duas mães (família homoafetiva) e conversávamos sem dá conta do tempo. VIRAMOS AMIGOS DE INFÂNCIA. Com o passar dos dias, eu fui rindo menos e cansando de ter que inventar uma história nova para cada combinação. Estava quase deletando o aplicativo quando resolvi colocar a localização em PORTUGAL. E AÍ EU ME VI SENTINDO FALTA DO “CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS” QUE NUNCA TIVE. ERA CADA HOMEM LINDO QUERENDO SABER O QUE EU FAZIA EM PORTO DE PORTUGAL. Aos que me adicionaram no whatsapp: um eterno obrigada, o sotaque de vocês é uma delícia. Vocês querem saber o que eu fazia em Porto de Portugal? Ah, eu estava lá para me matricular na pós-graduação. NA UNIVERSIDADE DO PORTO. E IRIA MORAR LÁ EM DEZEMBRO. Eu sei que ainda há várias pessoas me esperando por lá, mas histórias precisam ser contadas. Eu sei que neste exato momento há pessoas me bloqueando, desfazendo nossa família no The Sims4 ou me amaldiçoando eternamente. Não guardem rancor, vocês me fizeram rir por 15 dias.  

É claro que o jogo sempre vira. Virou no exato momento em que contei para um cara engraçado toda a verdade e a finalidade deste “TOUR DA DEPRESSÃO”. Ele riu bastante e não me achou louca o suficiente para me afastar. AINDA. O fato é que contar a verdade e toda a história para ele parecia o certo... E quando eu vi estava discutindo – por  vídeo conferência – a quantidade de filhos que teríamos, imitando caras de bonecas em filmes de terror ou mostrando a bagunça do quarto e compartilhando as tatuagens. EU SEI. EU SEI. NÃO PRECISA GRITAR COMIGO, MAS EU ILUDI MUITA GENTE FORA DO ESTADO E DO PAÍS. É CLARO QUE A VIDA IRIA COLOCAR A MÃO NA CINTURA E DIZER “OI MIGA, QUEM ESTÁ RINDO AGORA?”. Pelo menos é brasileiro. Ok, não adianta nada.

As combinações foram divertidas, os dias foram amenizados, algumas histórias guardadas de tão bonitas e gentilezas retribuídas. Não importa onde você está, quem é ou o que quer. Você possui um poder enorme de fazer alguém sorrir e ser leve, mesmo sem se dar conta. Obrigada. De coração.



    

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