21 março 2015

Memórias


- O problema está em lembrar algo que deveria ser esquecido.

A risada. A VOZ CHAMANDO SEU NOME. As mensagens. O cheiro do shampoo. A letra da música preferida. A prece. O som da respiração na sua nuca. Pequenos momentos, várias lembranças. O que pode ser bonito também pode ser perigoso. Lembrar o que se deve esquecer é um dos grandes problemas do ser humano ou o meu maior desafio. 

Há coisas ditas que não podem ser apagadas, elas serão gravadas com brasa na mente, estará no subconsciente, no final da risada, no olhar perdido.  Cuidado com o que você diz, cuidado com o que você faz, e, mesmo que saiba o quanto é perigoso magoar alguém... Pense duas vezes antes de querer ferir de propósito. A memória é a única que salva e mata. Contraditório, não é? E mais contraditório ainda é que essas palavras ganharam ordem por mim. A que fere antes de ser ferida, a que diz cinquenta vezes que perdoou ou que acha que não precisa ser legal para ser aceita. E mais: a que tem consciência de que fere, mas continua ferindo porque a única mente fotográfica é a dela. Pior erro é achar que é única em alguma coisa com sete bilhões de pessoas no mundo.

Lembrar pode ser um martírio quando revive uma cena que deveria ser excluída da mente, lembrar pode ser salvação na hora da prova. Lembrar pode fazer você chorar até soluçar ou dormir. Lembrar pode te dar o melhor emprego. Lembrar pode fazer você virar alvo ao presenciar um crime. Lembrar pode te fazer dormir sem peso na consciência porque você cumpriu o que prometeu. Lembrar pode fazer as pessoas sentirem raiva de você porque “desenterrou” algo. Lembrar pode fazer você superar ou SE superar. É como o bem e o mal, paraíso e inferno, amor e ódio, fé e desesperança. E para ser mais específica... Coxinha versus pão-com-ovo.

Eu relembro sempre dos piores momentos, até em um lugar onde as lembranças podem ficar na porta por não terem ingressos. Eu estou relembrando, no exato momento, o motivo que me fez escrever esse texto. Estou relembrando o que deve ser esquecido. Leitor, eu terei que esperar Katy Perry ganhar um Grammy ou Leonardo Dicaprio ganhar um Oscar para reconsiderar esquecer. EU DISSE “RECONSIDERAR”, mas você não precisa ser eu. Não precisa se punir de propósito. Você precisa de paz, eu... O caos faz parte de mim, me fez chegar até aqui. Mesmo não sabendo onde é e o que é “aqui”.

Você pode esquecer, só não pode esquecer-se de si mesmo e que o mundo precisa de amor. Eu sei que o amor é sempre a medida certa para a cura, mas o meu amor foi comprometido, teve morte cerebral e está respirando por aparelhos. Enquanto eu digo “sorria” para você – também – levanto o dedo do meio.



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