Olhar
para Fábio e não se encantar com os olhos da cor do mar é impossível. Um azul que lembra o céu, piscina e
inocência. Os olhos funcionam como
placas sinalizadas. Eles indicam quando prosseguir, parar, desacelerar e voltar.
Com
apenas um olhar percebemos as intenções, a reprovação, admiração, paixão. Sim,
os olhos são espelhos da alma. A alma de Fábio está perturbada, seus olhos não
são mais azuis vívidos, não há brilho, não há foco. Só dor, interrogações e
saudade. Ele seguiu em frente, não esperou Fábio. Não esperou a mãe de Fábio
curar-se, não esperou Fábio voltar para, enfim, o apartamento em que os dois
viviam e amavam-se. Como largar tudo que construíram juntos em um mês? Essa
pergunta está por todos os lugares e segue o Fábio 24 horas. O amor é isso. É
amar, se desencontrar, perde-se, achar que nunca mais amará ninguém e perguntar
a uma desconhecida se ela acredita no amor.
Há
sempre o que ama mais, sim. O que se dedica com garra, o que move o céu e a
terra para agradar, para fazer valer à pena, para dar certo. E há o que espera.
Espera a atitude do parceiro, a ligação da namorada, o convite, quer que ele ou
ela se responsabilize, quer ser o último a pedir desculpas... Ou pior: não ter
culpa nenhuma. Será que Fábio merece alguém que não estava ao lado dele quando
precisou? Os relacionamentos perderam a essência da batalha, a aura da
cumplicidade. Os casais tornaram-se e foram, em sua maioria, resumidos em
dominadores e submissos, o que é triste e desanimador. Não há como julgar
quando alguém se rebela e diz que não irá amar, namorar ou casar. São Jovens
marcados pelo esforço que fizeram para dar tudo de si. E tudo que não tinha.
São mães espancadas e abandonadas, são pessoas tratadas como algo substituível
em um relacionamento, são pessoas sem o direito de falar, são solitários em uma
busca implacável para ser amados, para ser valorizados e encontrar alguém que
beije cada lágrima que percorra o seu rosto.
A
vida é isso: é perder, ganhar, amar, perder novamente, cair e passar hidratante
no joelho que ficou cinzento depois da queda. E sem dúvida é levantar. Os
holofotes estão em cima e o que se pode fazer depois da queda? Pegar o
microfone e dizer “isso não fazia parte do show, mas acabei de experimentar a
lei da gravidade”. Imagine não superar
algo? Imagine como devem ser cinza os dias... Como as mães ao perder filhos
sobrevivem? Elas têm outros motivos que fincam os próprios pés na terra. Há
alguém aqui por você. Nem que seja alguém encarregado de cobrar suas
dívidas. Há alguém andando por aí te
procurando sem saber.
O
que Fábio não percebeu é que aquela queda, aos dozes anos de idade, da árvore
deixou uma cicatriz, mas parou de doer. O mesmo vale para o coração e para a
alma. A queda é necessária porque somos feitos de cicatrizes que contam uma
história, mas não doem para sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário