07 abril 2015

Quando alguém não espera


 Olhar para Fábio e não se encantar com os olhos da cor do mar é impossível.  Um azul que lembra o céu, piscina e inocência.  Os olhos funcionam como placas sinalizadas. Eles indicam quando prosseguir, parar, desacelerar e voltar.

Com apenas um olhar percebemos as intenções, a reprovação, admiração, paixão. Sim, os olhos são espelhos da alma. A alma de Fábio está perturbada, seus olhos não são mais azuis vívidos, não há brilho, não há foco. Só dor, interrogações e saudade. Ele seguiu em frente, não esperou Fábio. Não esperou a mãe de Fábio curar-se, não esperou Fábio voltar para, enfim, o apartamento em que os dois viviam e amavam-se. Como largar tudo que construíram juntos em um mês? Essa pergunta está por todos os lugares e segue o Fábio 24 horas. O amor é isso. É amar, se desencontrar, perde-se, achar que nunca mais amará ninguém e perguntar a uma desconhecida se ela acredita no amor.

Há sempre o que ama mais, sim. O que se dedica com garra, o que move o céu e a terra para agradar, para fazer valer à pena, para dar certo. E há o que espera. Espera a atitude do parceiro, a ligação da namorada, o convite, quer que ele ou ela se responsabilize, quer ser o último a pedir desculpas... Ou pior: não ter culpa nenhuma. Será que Fábio merece alguém que não estava ao lado dele quando precisou? Os relacionamentos perderam a essência da batalha, a aura da cumplicidade. Os casais tornaram-se e foram, em sua maioria, resumidos em dominadores e submissos, o que é triste e desanimador. Não há como julgar quando alguém se rebela e diz que não irá amar, namorar ou casar. São Jovens marcados pelo esforço que fizeram para dar tudo de si. E tudo que não tinha. São mães espancadas e abandonadas, são pessoas tratadas como algo substituível em um relacionamento, são pessoas sem o direito de falar, são solitários em uma busca implacável para ser amados, para ser valorizados e encontrar alguém que beije cada lágrima que percorra o seu rosto.

A vida é isso: é perder, ganhar, amar, perder novamente, cair e passar hidratante no joelho que ficou cinzento depois da queda. E sem dúvida é levantar. Os holofotes estão em cima e o que se pode fazer depois da queda? Pegar o microfone e dizer “isso não fazia parte do show, mas acabei de experimentar a lei da gravidade”.  Imagine não superar algo? Imagine como devem ser cinza os dias... Como as mães ao perder filhos sobrevivem? Elas têm outros motivos que fincam os próprios pés na terra. Há alguém aqui por você. Nem que seja alguém encarregado de cobrar suas dívidas.  Há alguém andando por aí te procurando sem saber.


O que Fábio não percebeu é que aquela queda, aos dozes anos de idade, da árvore deixou uma cicatriz, mas parou de doer. O mesmo vale para o coração e para a alma. A queda é necessária porque somos feitos de cicatrizes que contam uma história, mas não doem para sempre. 

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