21 maio 2015

Quando é amor?

Andar pelas ruas da cidade e encontrar ene casais de mãos dadas, compartilhando palavras sussurradas, sorrisos largos, olhares penetrantes e gestos acalentadores é fácil. Não se escondem, não se largam, e, quando um solta a mão do outro... Automaticamente elas se entrelaçam novamente. Eles não percebem, eu percebo, assisto e me pergunto “quanto tempo vai durar?”.

Um questionamento cruel, mas necessário. Quanto tempo dura atos de carinho em público e online. Em que base foi construída esse relacionamento? Ela era a amiga de infância dele? Ele a achou por uma rede social? Ela não deu sinal e sem querer ele bateu no carro popular dela? Eu não sei, nunca saberei. Assim como nunca saberei se será “para sempre”, e quanto tempo estão juntos. Estes casais desconhecidos me inspiram, de forma fantasiosa e realista. Um equilíbrio. O começo e o FIM. Eu gostaria que um casal tivesse se apaixonado por um pequeno acidente de trânsito. “VOCÊ BATEU NO MEU CARRO!” “Você não sinalizou, mas eu vou pagar o que foi danificado e o nosso jantar.” Certo, seria magnífico contar essa história para os amigos e nas reuniões familiares. Talvez, tenha acontecido com alguém... MAS e depois? Depois do jantar, depois que ele a deixou em casa, depois de debaterem se é bolacha ou biscoito? O que acontece depois? Ele, com certeza, não irá jogar uma pedrinha na janela dela, em plena penumbra da madrugada, convidando-a para uma aventura pelas ruas. A vida não é um filme americano.  O depois pode ser paixão ou amor. O depois pode ser desencontros. O depois pode não ter mais pulso vital.

Eu sei quando é paixão. A paixão dura três anos, nos intoxica, é como uma ventania que leva as muralhas do seu coração. Você é exposta, testada, quase se joga em água límpida e profunda dos mais belos mares. A paixão faz a gente perder quinze quilos em um mês, faz a gente fazer playlist sobre os dois, cega, e literalmente tateamos no escuro. Vem sem avisar e quando você percebe já está uniformizada para trabalhar, da melhor forma possível, para que algo dê certo. Que perdure. Que vire roteiro de cinema. O que ninguém admite é que no fundo há a sensação de que alguém vai sair dessa história com uma ferida exposta e dolorosa. Por quê? Porque não é amor. Como eu sei? Posso pular a parte do “porque eu sei” e ir para a parte da explicação? Todo mundo em fila indiana e vamos lá.
Elevador ou escadas? Escadas. Para protelar mais um momento em que eu seria colocada em uma pista com abismo e dentro de um carro sem freios na velocidade da luz. Escadas. Quinto andar. Unidade de Terapia Intensiva. UTI. A primeira vez que eu percebi que amava alguém de verdade foi entre sondas, barulhos do aparelho cardíaco e cateter. Eu não sabia que a amava até desligarem os aparelhos.  Eu tinha quatorze anos e descobri que amava a minha irmã tarde demais. Esse amor não diminui e nem some com o tempo. Cresce a cada momento em que paro para imaginar como seria ser tia. Madrinha. Discutir sobre bandas aos meus vinte e poucos anos com ela. Conversar sobre política, meninos, bebidas, festas e roupas. A minha irmã foi o meu primeiro amor e eu e nem ela sabíamos.

Quando amei novamente, amei sozinha. Ele se apaixonou. Eu amei. Experimentei com ele o companheirismo, a fidelidade, o orgasmo, a aventura e a tempestade da família por contrariar a todos em busca do que eu queria e quem queria. Acabou. E como eu disse, amei sozinha. Porque não importa os quilômetros, o dinheiro, o orgulho, obstáculos, escalas, vôos cancelados... Quem ama fica. A minha irmã não ficou porque o seu corpo não podia. Ele não, não quis. Procurou um romance pacato, sem chamas e por medo. Orgulho, razão. Sem saber que a melhor escolha é quem está fazendo você ler até o fim. Serei a melhor escolha para todos porque em tempos de cóleras eu tenho coração. E é aqui que a minha nova jornada recomeça. Eu quero outros quilômetros, escalas, orgasmos, sonos perdidos, outras varandas, outros braços. O amor se transformou em carinho e carinho eu tenho até por um professor que me dará dez no TCC (modo sonhadora ativar), mas sempre terá um lugar no meu coração. Eu só diminuí o espaço que ele ocupava para que eu possa amar alguém que fique nos dias ensolarados e nas noites sombrias. E todo mundo consegue desocupar as gavetas, tirar o pó das prateleiras e esperar a nova visita com o coração arrumado e alma passada e engomada.



Se realmente formos feitos dos livros que lemos, dos sonhos que querermos realizar, das pessoas que tocamos, das músicas que ouvimos e dos momentos que guardamos, sem dúvidas seremos um misto de amor, esperança, humildade e charmes. Seremos amados e será recíproco. Será amor e não paixão. 

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