Andar
pelas ruas da cidade e encontrar ene casais de mãos dadas, compartilhando
palavras sussurradas, sorrisos largos, olhares penetrantes e gestos
acalentadores é fácil. Não se escondem, não se largam, e, quando um solta a mão
do outro... Automaticamente elas se entrelaçam novamente. Eles não percebem, eu
percebo, assisto e me pergunto “quanto tempo vai durar?”.
Um
questionamento cruel, mas necessário. Quanto tempo dura atos de carinho em
público e online. Em que base foi construída esse relacionamento? Ela era a
amiga de infância dele? Ele a achou por uma rede social? Ela não deu sinal e
sem querer ele bateu no carro popular dela? Eu não sei, nunca saberei. Assim como
nunca saberei se será “para sempre”, e quanto tempo estão juntos. Estes casais
desconhecidos me inspiram, de forma fantasiosa e realista. Um equilíbrio. O
começo e o FIM. Eu gostaria que um casal tivesse se apaixonado por um pequeno
acidente de trânsito. “VOCÊ BATEU NO MEU CARRO!” “Você não sinalizou, mas eu
vou pagar o que foi danificado e o nosso jantar.” Certo, seria magnífico contar
essa história para os amigos e nas reuniões familiares. Talvez, tenha
acontecido com alguém... MAS e depois? Depois do jantar, depois que ele a deixou
em casa, depois de debaterem se é bolacha ou biscoito? O que acontece depois?
Ele, com certeza, não irá jogar uma pedrinha na janela dela, em plena penumbra
da madrugada, convidando-a para uma aventura pelas ruas. A vida não é um filme
americano. O depois pode ser paixão ou
amor. O depois pode ser desencontros. O depois pode não ter mais pulso vital.
Eu
sei quando é paixão. A paixão dura três anos, nos intoxica, é como uma ventania
que leva as muralhas do seu coração. Você é exposta, testada, quase se joga em água
límpida e profunda dos mais belos mares. A paixão faz a gente perder quinze
quilos em um mês, faz a gente fazer playlist sobre os dois, cega, e literalmente
tateamos no escuro. Vem sem avisar e quando você percebe já está uniformizada
para trabalhar, da melhor forma possível, para que algo dê certo. Que perdure.
Que vire roteiro de cinema. O que ninguém admite é que no fundo há a sensação
de que alguém vai sair dessa história com uma ferida exposta e dolorosa. Por
quê? Porque não é amor. Como eu sei? Posso pular a parte do “porque eu sei” e
ir para a parte da explicação? Todo mundo em fila indiana e vamos lá.
Elevador
ou escadas? Escadas. Para protelar mais um momento em que eu seria colocada em
uma pista com abismo e dentro de um carro sem freios na velocidade da luz.
Escadas. Quinto andar. Unidade de Terapia Intensiva. UTI. A primeira vez que eu
percebi que amava alguém de verdade foi entre sondas, barulhos do aparelho cardíaco
e cateter. Eu não sabia que a amava até desligarem os aparelhos. Eu tinha quatorze anos e descobri que amava a
minha irmã tarde demais. Esse amor não diminui e nem some com o tempo. Cresce a
cada momento em que paro para imaginar como seria ser tia. Madrinha. Discutir
sobre bandas aos meus vinte e poucos anos com ela. Conversar sobre política,
meninos, bebidas, festas e roupas. A minha irmã foi o meu primeiro amor e eu e
nem ela sabíamos.
Quando
amei novamente, amei sozinha. Ele se apaixonou. Eu amei. Experimentei com ele o
companheirismo, a fidelidade, o orgasmo, a aventura e a tempestade da família
por contrariar a todos em busca do que eu queria e quem queria. Acabou. E como
eu disse, amei sozinha. Porque não importa os quilômetros, o dinheiro, o
orgulho, obstáculos, escalas, vôos cancelados... Quem ama fica. A minha irmã
não ficou porque o seu corpo não podia. Ele não, não quis. Procurou um romance
pacato, sem chamas e por medo. Orgulho, razão. Sem saber que a melhor escolha é
quem está fazendo você ler até o fim. Serei a melhor escolha para todos porque
em tempos de cóleras eu tenho coração. E é aqui que a minha nova jornada
recomeça. Eu quero outros quilômetros, escalas, orgasmos, sonos perdidos,
outras varandas, outros braços. O amor se transformou em carinho e carinho eu tenho
até por um professor que me dará dez no TCC (modo sonhadora ativar), mas sempre
terá um lugar no meu coração. Eu só diminuí o espaço que ele ocupava para que
eu possa amar alguém que fique nos dias ensolarados e nas noites sombrias. E todo
mundo consegue desocupar as gavetas, tirar o pó das prateleiras e esperar a
nova visita com o coração arrumado e alma passada e engomada.
Se
realmente formos feitos dos livros que lemos, dos sonhos que querermos
realizar, das pessoas que tocamos, das músicas que ouvimos e dos momentos que
guardamos, sem dúvidas seremos um misto de amor, esperança, humildade e
charmes. Seremos amados e será recíproco. Será amor e não paixão.
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