09 maio 2015

O Machismo

A primeira vez que tive contato com o machismo foi aos dez anos. Meus primos não me deixavam brincar com bola porque eu era menina. Ali era só a ponta do iceberg do que me esperava. Na escola, eu preferia usar o cabelo preso com tiara, isso era inadmissível para as colegas PORQUE (segundo elas) OS MENINOS gostavam do cabelo solto de prancha. 

Cresci e vi que o machismo foi piorando, expandido, virou uma seita, uma organização quase política e, ao mesmo tempo, medieval. Lembrando que: estamos em 2015, século XXI. O que me preocupa é que algumas mulheres não percebem quando estão sendo vítimas dessa doença. Sim, é uma doença. Contagiosa e com muitos sintomas. A doença começa com “você vai sair com essa saia?”, “você tem que se dar ao respeito”, “porque mulher não pode...”, “porque eu não quero que pensem que você é puta”, “porque tem que saber cozinhar”, “porque quero um filho agora e depois você faz o doutorado” ou “tinha que ser uma mulher ao volante”.

No Oscar 2015, Patricia Arquette - ao ganhar como Melhor Atriz Coadjuvante – revelou, em seu discurso, que as atrizes ganham menos que os homens. É inacreditável que uma boa atriz ganhe menos por ser mulher. EM 2015. 2015. DOIS MIL E QUINZE. E é também inacreditável que mães falem “não sabe fazer isso, o marido não vai querer”, “não sabe fazer aquilo, o marido vai penar”. Vamos ter um companheiro ou seremos escravas? Esse tempo já passou. Quer amarrar o cadarço? Amarra sozinho. Quer fazer sexo no dia que não estou a fim? Se vire. Quer que eu troque a roupa? Troque a nossa casa para Paris primeiro... E mesmo assim não trocarei de roupa.

Os sinais dos machistas estão ao seu lado. Sim, está na sua casa, escola, faculdade ou trabalho. Está no seu pai, no seu melhor amigo, primo, chefe. Basta sentar por um minuto perto de alguns meninos para ouvir as palavras “peguei”, “puta”, “não é pra namorar”. Somos objetos? O que é ser puta? Qual é a definição para essa palavra e suas características? Quero uma redação de 500 linhas explicando o que é ser puta. Se alguém fizer uma enquete com essa pergunta ouvirá barbaridades e pensará “me leva Deus”. Os homens não estão preparados para perceber que o tempo passou e ganhamos direitos, que somos mais organizadas, que podemos “ser pãe” (pai e mãe ao mesmo tempo), que somos mais habilidosas e inteligentes. Quando você chama alguém de puta... A sua irmã/prima/mãe está sendo considerada assim também por outra pessoa. Olha que coisa maravilhosa...

 As mulheres não são obrigadas a empurrar com a barriga um relacionamento que se desgastou, em que o “eu te amo” virou “bom dia”, em que o homem só a faz de objeto sexual e doméstico. Quando essa mulher levanta e olha ao redor... Ela se liberta. Na vida ou na morte. Na morte porque o machismo mata, fere, faz sangrar, traz dor. A sua filha pode ser morta pelo machismo, a sua irmã pode ser morta pelo machismo, VOCÊ pode ser morta(o) pelo machismo.


Por favor, entenda que queremos ser livres, queremos ter o poder da escolha, da voz, queremos o direito de viver sem rótulos e sem morrer. As mulheres não odeiam os homens (mas se você der motivos, elas odiarão), até somos encantadas pela masculinidade que predomina e o senso de proteção que alguns homens têm (apesar de que já temos vagas no boxe). Todos os dias uma mulher é morta pelo companheiro. Todos os dias uma mulher é agredida e violentada. Todos os dias uma mãe chora. 

Um comentário:

  1. Excelente texto. Acho que nenhum tipo de sexismo deveria existir, afinal somos todos humanos.

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