Renato
disse aos dezoito anos de idade. Cazuza respondeu, também, aos dezoito. Cássia
nunca escondeu que pedia a Deus um pouco de malandragem e a felicidade em ser
quem era ao segurar a mão de Maria Eugênia.
Preciso
falar sobre o meu disclaimer: há tempos não somos os mesmos. E há
tempos não é preciso esconder amor. E há tempos os jovens não precisam temer
retaliações da sociedade sobre a homossexualidade. O meu aviso pode parecer paráfrases
das músicas do Renato Russo, de Cazuza ou da Cássia Eller. A intenção é essa,
não se preocupe. Você não está em um filme de ação e perseguição. Não precisa
correr mais, pare e fique. Seja na sua casa, diante dos seus pais (religiosos
ou não) diga a verdade. O que vejo são jovens reprimidos pelo choro da mãe,
pelo olhar acusatório do pai. Se você gosta de meninos e meninas, não recue por não se tornar o plano perfeito da família
ou da sociedade. O que você vai ser quando crescer? Fugitivo de si, da própria
alma e felicidade? Você
não contém um relicário para guardar
tudo que te faz feliz e na verdade, esse relicário não precisa guardar a sua
essência. Guardar você. É tempo perdido,
ceder ao medo. Medo de perder. Perder o respeito, o amor de quem te criou,
perder um lugar no mercado de trabalho, no time de futebol, no balé por gostar
de meninas. Você já tem um lugar, leis que te protegerá (mesmo quando falham –
a lei do homem – não é páreo para a do universo e retorno), movimentos que não largarão
a oportunidade de reivindicar o seu direito de ir e vir sem ser respeitado como
um hétero. Vocês não são marginais. Amar não é crime e se um dia chegar a
ser... Pegarei pena de morte.
Quem me dera, ao menos uma vez,
fazer com que o mundo entenda que se precisa de abraços e não repúdio e
discursos de ódio por você amar. Se te chamam de “bicha” e você continua
andando sem responder, estará dando a melhor resposta. É como em filme de ação:
algo explode e você continua andando. Infelizmente sem poder, pelo menos, dar
um soco (OK. EU DISSE QUE O SILÊNCIO É A MELHOR RESPOSTA, MAS EU NÃO RECEBI UMA
APARIÇÃO DIVINA DIZENDO QUE SOU OCEANO PARA SER TÃO PACÍFICA. Olhei para o lado,
não tem espaço para o Prêmio Nobel da Paz aqui).
Se
a vida fosse resumida em esconder a homossexualidade, quem iria agitar as festas?
Quem iria me fazer refletir sobre superações, genialidade e bater cabelo? Em
que outro planeta (planeta Miga) eu iria patentear uma CIRANDA DE VIADOS™ na minha vida? E as conquistas? O casamento
gay, o direito de adotar e dar um lar feliz para uma criança que nem sempre
terão ao lado de pais “padrão/sociedade/aceitos pela família evangélica” vulgo “heteros
de campanhas publicitárias”. Não, não se escondam. Não deixe a piadinha pra
lá, você tem nome e não deve ser chamado pelos estereótipos de bicha, sapatão,
caminhoneira ou travesti. Mil preconceituosos cairão ao seu
lado, dez mil cairão à sua direita. Mas você não será
atingido porque eu aparecerei com um TEXTÃO. Ou terra para jogar nos
olhos mesmo...
Não
há mais o que temer. Não, não é um discurso para ser veículado em rede nacional
e internacional após uma guerra. Sou feita de contradições, porque existem outros
problemas que fazem o medo: seca, fome, guerra civil, biológica, conferir o
troco quando é de humanas... Sempre haverá, mas não para vocês. Não para você
que ama uma pessoa do mesmo sexo. Não hoje e nem amanhã. E como disse Cazuza, em uma
dedicatória para si mesmo, “Caju: fique livre do mundo, aproveite a dor, ame de olhos fechados
e se divirta na Terra. Cazuza”.
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