01 junho 2015

Bobeira é não viver a própria sexualidade

Renato disse aos dezoito anos de idade. Cazuza respondeu, também, aos dezoito. Cássia nunca escondeu que pedia a Deus um pouco de malandragem e a felicidade em ser quem era ao segurar a mão de Maria Eugênia.

Preciso falar sobre o meu disclaimer: há tempos não somos os mesmos. E há tempos não é preciso esconder amor. E há tempos os jovens não precisam temer retaliações da sociedade sobre a homossexualidade. O meu aviso pode parecer paráfrases das músicas do Renato Russo, de Cazuza ou da Cássia Eller. A intenção é essa, não se preocupe. Você não está em um filme de ação e perseguição. Não precisa correr mais, pare e fique. Seja na sua casa, diante dos seus pais (religiosos ou não) diga a verdade. O que vejo são jovens reprimidos pelo choro da mãe, pelo olhar acusatório do pai. Se você gosta de meninos e meninas, não recue por não se tornar o plano perfeito da família ou da sociedade. O que você vai ser quando crescer? Fugitivo de si, da própria alma e felicidade? Você não contém um relicário para guardar tudo que te faz feliz e na verdade, esse relicário não precisa guardar a sua essência. Guardar você. É tempo perdido, ceder ao medo. Medo de perder. Perder o respeito, o amor de quem te criou, perder um lugar no mercado de trabalho, no time de futebol, no balé por gostar de meninas. Você já tem um lugar, leis que te protegerá (mesmo quando falham – a lei do homem – não é páreo para a do universo e retorno), movimentos que não largarão a oportunidade de reivindicar o seu direito de ir e vir sem ser respeitado como um hétero. Vocês não são marginais. Amar não é crime e se um dia chegar a ser... Pegarei pena de morte.

Quem me dera, ao menos uma vez, fazer com que o mundo entenda que se precisa de abraços e não repúdio e discursos de ódio por você amar. Se te chamam de “bicha” e você continua andando sem responder, estará dando a melhor resposta. É como em filme de ação: algo explode e você continua andando. Infelizmente sem poder, pelo menos, dar um soco (OK. EU DISSE QUE O SILÊNCIO É A MELHOR RESPOSTA, MAS EU NÃO RECEBI UMA APARIÇÃO DIVINA DIZENDO QUE SOU OCEANO PARA SER TÃO PACÍFICA. Olhei para o lado, não tem espaço para o Prêmio Nobel da Paz aqui).

Se a vida fosse resumida em esconder a homossexualidade, quem iria agitar as festas? Quem iria me fazer refletir sobre superações, genialidade e bater cabelo? Em que outro planeta (planeta Miga) eu iria patentear uma CIRANDA DE VIADOS na minha vida? E as conquistas? O casamento gay, o direito de adotar e dar um lar feliz para uma criança que nem sempre terão ao lado de pais “padrão/sociedade/aceitos pela família evangélica” vulgo “heteros de campanhas publicitárias”. Não, não se escondam. Não deixe a piadinha pra lá, você tem nome e não deve ser chamado pelos estereótipos de bicha, sapatão, caminhoneira ou travesti. Mil preconceituosos cairão ao seu lado, dez mil cairão à sua direita. Mas você não será atingido porque eu aparecerei com um TEXTÃO. Ou terra para jogar nos olhos mesmo...


Não há mais o que temer. Não, não é um discurso para ser veículado em rede nacional e internacional após uma guerra. Sou feita de contradições, porque existem outros problemas que fazem o medo: seca, fome, guerra civil, biológica, conferir o troco quando é de humanas... Sempre haverá, mas não para vocês. Não para você que ama uma pessoa do mesmo sexo. Não hoje e nem amanhã. E como disse Cazuza, em uma dedicatória para si mesmo, “Caju: fique livre do mundo, aproveite a dor, ame de olhos fechados e se divirta na Terra. Cazuza”.

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