17 fevereiro 2015

Artificial

- Sou trouxa, mas artificial não se enquadra em mim.

Sou uma mulher e como todas as mulheres, tenho paranóias e imperfeições. Não tenho um corpo bonito, bumbum empinado, nariz afilado e seios pequenos. Uso franja porque ao herdar da minha mãe os olhos de canoa, herdei a sobrancelha falha.  Visto quarenta e dois e brigo com a balança desde sempre.  Não sou “top”, “linda” e artificial.

Já tive cabelo curto, já tive cabelo vermelho, já vesti 38.  O tempo nos modifica, acabamos não tendo mais a mesma facilidade para perder peso, escondemos as olheiras com corretivo porque passamos noites acordados pensando no TCC, na morte da bezerra, no pergaminho de trouxa que fazemos na vida e escondemos os lábios ressecados, pelo clima quente, com um simples batom rosa. Não estou aqui para agradar a todos e sei que não agrado, mas dizer que sou artificial por ter preocupações físicas e emocionalmente como todos os mortais é injusto, pedante e errôneo.

A mesma pose nas fotos? É que tenho medo de tirar foto mostrando os dois dedinhos da paz. Como eu poderia tirar uma foto com o símbolo da paz se tudo em mim é inquietude? Eu sou uma tempestade, mas aquela que faz mares se agitarem e não a que destrói casas e corações. E eu não sorrio nas fotos porque... Eu estou rindo do quê? Da câmera do celular? Não. Então, o Bozo não está tirando a minha foto e no contrato da vida não veio o termo “rir em todas as fotos”.  O que quero que entendam é que não sou uma menina que faz a mesma pose e usa o mesmo corte de cabelo porque a sociedade me aceita assim. Eu uso porque ME agrada, faço porque ME agrada, uso batom rosa porque ME agrada. A vida não é questão de amar a si mesmo em primeiro lugar? Drummond, Saramago, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e Clarissa Corrêa nos mostram em suas obras que amar a si mesmo é uma das formas mais bonitas de amar.


Eu compenso o que não tenho com a escrita, sendo engraçada, amiga, sincera e atenciosa. E eu sei que o que sou é mais bonito e importante do que a mesma pose que faço, a franja, os lábios marcados de rosa, o filtro na foto ou o nome. O nome que carrego, forte e diferente como o meu coração.  Espero e quero que saibam que o que represento em uma foto não é tão bonito quanto, ao sentar comigo, gargalhar das minhas histórias. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário