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Sou trouxa, mas artificial não se enquadra em mim.
Sou
uma mulher e como todas as mulheres, tenho paranóias e imperfeições. Não tenho
um corpo bonito, bumbum empinado, nariz afilado e seios pequenos. Uso franja
porque ao herdar da minha mãe os olhos de canoa, herdei a sobrancelha
falha. Visto quarenta e dois e brigo com
a balança desde sempre. Não sou “top”,
“linda” e artificial.
Já
tive cabelo curto, já tive cabelo vermelho, já vesti 38. O tempo nos modifica, acabamos não tendo mais
a mesma facilidade para perder peso, escondemos as olheiras com corretivo
porque passamos noites acordados pensando no TCC, na morte da bezerra, no
pergaminho de trouxa que fazemos na vida e escondemos os lábios ressecados,
pelo clima quente, com um simples batom rosa. Não estou aqui para agradar a
todos e sei que não agrado, mas dizer que sou artificial por ter preocupações
físicas e emocionalmente como todos os mortais é injusto, pedante e errôneo.
A
mesma pose nas fotos? É que tenho medo de tirar foto mostrando os dois dedinhos
da paz. Como eu poderia tirar uma foto com o símbolo da paz se tudo em mim é
inquietude? Eu sou uma tempestade, mas aquela que faz mares se agitarem e não a
que destrói casas e corações. E eu não sorrio nas fotos porque... Eu estou rindo
do quê? Da câmera do celular? Não. Então, o Bozo não está tirando a minha foto
e no contrato da vida não veio o termo “rir em todas as fotos”. O que quero que entendam é que não sou uma
menina que faz a mesma pose e usa o mesmo corte de cabelo porque a sociedade me
aceita assim. Eu uso porque ME agrada, faço porque ME agrada, uso batom rosa
porque ME agrada. A vida não é questão de amar a si mesmo em primeiro lugar?
Drummond, Saramago, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu e Clarissa Corrêa
nos mostram em suas obras que amar a si mesmo é uma das formas mais bonitas de
amar.
Eu
compenso o que não tenho com a escrita, sendo engraçada, amiga, sincera e
atenciosa. E eu sei que o que sou é mais bonito e importante do que a mesma
pose que faço, a franja, os lábios marcados de rosa, o filtro na foto ou o
nome. O nome que carrego, forte e diferente como o meu coração. Espero e quero que saibam que o que
represento em uma foto não é tão bonito quanto, ao sentar comigo, gargalhar das
minhas histórias.
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