19 dezembro 2014

Marina

- Não, não foi sua culpa.

Eu não te conheço, mas seu nome está por todos os lugares. Está no telejornal, no impresso, no blog, na conversa das vizinhas e agora em minha mente. Ontem eu escrevi um texto sobre objetivos e nele fiz o seguinte questionamento: tem gente que recomeça da morte, de um desastre, da fome, de uma guerra... Já parou para pensar nisso?

Não consegui parar de pensar no que me incomodava: o julgamento das pessoas sobre a morte da sua pequena filha. A filha que você tinha planejado. Que amou, deu banho, viu os primeiros passos e ouviu as primeiras palavras. Rodrigo Machado, não foi a sua culpa. Marina não foi esquecida pelo pai.  Foi esquecida pelo Rodrigo preocupado com contas, preocupado em bater o ponto no trabalho, em ter que resolver os problemas da Secretaria de Finanças. Marina não te culpa, eu não te culpo e se nós duas tivermos que culpar alguém... Eu e Marina culparíamos o tempo, o trabalho, a rotina, o capitalismo.

Rodrigo Machado, por favor, não se destrua, não se renda a culpa que querem te impor. Ela massacra mentes inocentes e extermina a vontade de recomeçar. Eu não sou nada mais que uma pernambucana de vinte e poucos anos com a capacidade de se expressar por meio de pequenos textos em um blog, mas eu precisei sussurrar essas palavras, esses pedidos, porque estavam me sufocando. Somos feitos de erros, acertos e esquecimentos. Não somos máquinas programadas para fazer tudo com perfeição... Somos humanos e imperfeitos e cada um de nós está sujeito a sua parcela de fatalidades nesta vida.. Não, você não matou a sua filha. Você não a matou.

Eu costumo me perguntar “o que eu mudaria se pudesse voltar no tempo?” e hoje eu percebi que passaria esse “poder” para alguém como você, para alguém como a minha mãe. A minha mãe perdeu uma filha e também carrega uma culpa que não é dela. Os pais fazem isso.


O tempo vai passar e a dor vai diminuir, eu prometo... porque assisto todos os dias uma nova gargalhada da minha mãe, quando houve um tempo em que pensei que jamais voltaria a ouvi-las. Você vai se culpar menos, a sociedade vai esquecer você e Marina. Eu não esquecerei porque escrevi para você,  para ela e para essa dor que todos nós aprendemos a carregar, mais leve, a cada novo dia.

Um comentário:

  1. Que linda ♥
    Não consigo imaginar a dor desses pais, sou mãe Calincka, e não consigo imaginar perder minha galega.

    Que consigam superar a perda :'(

    ResponderExcluir