“Fez ela se afastar, mas ela vai voltar.”
Sair com amigos é sempre essencial. Eles nos dão a lucidez em uma única frase.
“Bicha, pare.” Sempre nos dão uma lanterna para que possamos iluminar o caminho
escuro que se estende por toda uma vida. Se a lanterna pifar, nos acostumamos
com a escuridão e podemos segurar sua mão.
Sábado (TUNZ, TUNZ, TUNZ) e menina Calincka já entra no carro com
um nó na garganta, MAS O NÓ NÃO SERIA DESFEITO NO COMEÇO DA NOITE. É preciso
ouvir. Dois amigos, dois nós. Buscando na noite e um no outro as palavras
certas depois de uma semana frustrante, depois de expectativas virando poeira
lunar. Houve risadas com a ciranda, mas dessa vez eu não estava presente em
alma. Mudamos de local e escolhemos um bar porque Petrolina estava
intransitável. Motivo? Carnaval em Juazeiro. A cidade gêmea de Petrolina, mas
separada pelo o Rio São Francisco e uma ponte.
O Bar não estava cheio. Sentamos e como sempre somos confundidos
com um casal... Meu amigo gay pediu um drink rosa que me faz rir e morrer de
vergonha ao mesmo tempo. E MESMO ASSIM
FOMOS CONFUNDIDOS COMO UM CASAL. Provavelmente eu sou vista como a usada por
namorar um cara gay. Tudo bem, melhor que ser coitada por namorar de verdade um
cara que é gay! Estávamos ali, duas almas que tinham se confessado dentro do
carro (é um ritual), segurando o nó que sem querer fazemos. O meu é o de
sempre: carência. O dele: a surpresa da vida. Eu não vejo problema algum em
falar que posso ficar chateada ao não encontrar alguém que seja legal, que me
faça ficar sem ter o que dizer ou que me faça desviar o olhar por não conseguir
sustentar um olhar por tanto tempo. Isso
não acontece muito. Há muito tempo. Em tempos de aplicativos e internet
móvel... As pessoas não te olham. Não te enxergam. Com tantas garotas em um
aplicativo como cardápio, é normal.
Alguns perdem a forma que jogo o cabelo ou quando olho para o chão
e miro nos olhos de um alguém. Isso não funciona mais. Porque estão dando like
nas minhas fotos em um aplicativo qualquer em vez de ver como molho os lábios
quando fico nervosa perto de alguém interessante. Encontramos uma amiga que iria tocar no bar e
nos animamos. Pedi uma caipirinha e o meu amigo falou “hoje tem heteros, dá
para você paquerar”. Não, não dava. Estavam olhando o celular, tirando fotos,
com namorada... E o único olhar que encontrei foi o do vocalista.
Déjà
vu?
É, eu também tive ao lembrar o texto Franja Solta... Mas dessa vez eu não
estava desesperada e bêbada. Uma voz rouca me fez olhar novamente para ele e
pensei “eu tenho que tirar uma lição dessa noite”. Ele não é do tipo galã, mas
eu não posso escolher e muito menos fazer coleção de modelos da Calvin Klein. E
então ele começou a cantar. Ele não sabe, mas eu não estava paquerando. Eu
estava me agarrando a uma música que nunca tive na playlist. Ele cantava “Ela
Vai Voltar” do Charlie Brow Jr.
“Ela tem força,
ela tem sensibilidade, ela é guerreira, ela é uma deusa. Ela é mulher de
verdade.” E eu me vi. Vi-me na música,
cada linha. É antiga, mas ela nunca me tocou fortemente. Eu aceitei que sim,
sim eu sou forte, sensível, guerreira e como não dizer uma deusa? Eu não me
entrego de primeira e você gosta de primeira. E então o “mas ela vai voltar,
ela vai voltar”...