31 janeiro 2015

Ela vai voltar

“Fez ela se afastar, mas ela vai voltar.”

Sair com amigos é sempre essencial.  Eles nos dão a lucidez em uma única frase. “Bicha, pare.” Sempre nos dão uma lanterna para que possamos iluminar o caminho escuro que se estende por toda uma vida. Se a lanterna pifar, nos acostumamos com a escuridão e podemos segurar sua mão.

Sábado (TUNZ, TUNZ, TUNZ) e menina Calincka já entra no carro com um nó na garganta, MAS O NÓ NÃO SERIA DESFEITO NO COMEÇO DA NOITE. É preciso ouvir. Dois amigos, dois nós. Buscando na noite e um no outro as palavras certas depois de uma semana frustrante, depois de expectativas virando poeira lunar. Houve risadas com a ciranda, mas dessa vez eu não estava presente em alma. Mudamos de local e escolhemos um bar porque Petrolina estava intransitável. Motivo? Carnaval em Juazeiro. A cidade gêmea de Petrolina, mas separada pelo o Rio São Francisco e uma ponte.

O Bar não estava cheio. Sentamos e como sempre somos confundidos com um casal... Meu amigo gay pediu um drink rosa que me faz rir e morrer de vergonha ao mesmo tempo.  E MESMO ASSIM FOMOS CONFUNDIDOS COMO UM CASAL. Provavelmente eu sou vista como a usada por namorar um cara gay. Tudo bem, melhor que ser coitada por namorar de verdade um cara que é gay! Estávamos ali, duas almas que tinham se confessado dentro do carro (é um ritual), segurando o nó que sem querer fazemos. O meu é o de sempre: carência. O dele: a surpresa da vida. Eu não vejo problema algum em falar que posso ficar chateada ao não encontrar alguém que seja legal, que me faça ficar sem ter o que dizer ou que me faça desviar o olhar por não conseguir sustentar um olhar por tanto tempo.  Isso não acontece muito. Há muito tempo. Em tempos de aplicativos e internet móvel... As pessoas não te olham. Não te enxergam. Com tantas garotas em um aplicativo como cardápio, é normal. 

Alguns perdem a forma que jogo o cabelo ou quando olho para o chão e miro nos olhos de um alguém. Isso não funciona mais. Porque estão dando like nas minhas fotos em um aplicativo qualquer em vez de ver como molho os lábios quando fico nervosa perto de alguém interessante.  Encontramos uma amiga que iria tocar no bar e nos animamos. Pedi uma caipirinha e o meu amigo falou “hoje tem heteros, dá para você paquerar”. Não, não dava. Estavam olhando o celular, tirando fotos, com namorada... E o único olhar que encontrei foi o do vocalista.

Déjà vu? É, eu também tive ao lembrar o texto Franja Solta... Mas dessa vez eu não estava desesperada e bêbada. Uma voz rouca me fez olhar novamente para ele e pensei “eu tenho que tirar uma lição dessa noite”. Ele não é do tipo galã, mas eu não posso escolher e muito menos fazer coleção de modelos da Calvin Klein. E então ele começou a cantar. Ele não sabe, mas eu não estava paquerando. Eu estava me agarrando a uma música que nunca tive na playlist. Ele cantava “Ela Vai Voltar” do Charlie Brow Jr.

“Ela tem força, ela tem sensibilidade, ela é guerreira, ela é uma deusa. Ela é mulher de verdade.” E eu me vi.  Vi-me na música, cada linha. É antiga, mas ela nunca me tocou fortemente. Eu aceitei que sim, sim eu sou forte, sensível, guerreira e como não dizer uma deusa? Eu não me entrego de primeira e você gosta de primeira. E então o “mas ela vai voltar, ela vai voltar”...

Sim, eu voltarei. Eu voltarei de cada medo criado, de cada erro feito e de cada tempo perdido. Ela – eu- vai voltar. 

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