17 janeiro 2015

A Sexualidade

- Ele é gay?
- Ele ainda não sabe.
- Eu acho que ele sabe.

O que será dito aqui parte de mim, da garota Calincka Crateús. A que escreve para aliviar o peso do mundo que carrega nas costas. Agora, eu sei que o que mais oprime um adolescente ou jovem é a luta contra a própria sexualidade.

A luta contra a sociedade que trata o fato como doença parece não incomodar mais, pois alguns têm a sorte de ter o amor e apoio dos pais. E quando temos pais do nosso lado... Não há 300 espartanos que saiam ilesos. O que observo constantemente é a luta de ser o que não é, o medo de assumir a sexualidade, o medo de gostar, o medo da família, de que não terá sucesso na carreira que escolheu por ser gay ou lésbica.

É uma luta sangrenta, vejo pessoas tristes com relacionamentos forçados para provar que não é e que não quer ser. Vejo pessoas abrindo mão da própria felicidade para seguir e sentir-se “normal” como a sociedade quer. Amar alguém do próprio sexo não é anormal, não é doença, não é desvio de caráter, não é feio e muito menos errado.  É amor. E o que o mundo precisa é de amor. Não fui criada por painho  (meu maior orgulho e minha referência máxima do que é SER um pai) para “ser menina”. Erraram a ultrassom. Minha mãe passou nove meses achando que era um menino e preparando o enxoval com verde e azul. Eu nasci, a minha pediatra (até hoje mainha liga para ela quando há algo de errado comigo) falou “mãe, erramos. Temos uma menina aqui. E ela não está chorando”. Além de ser uma menina, minha mãe teve que esperar por cinco minutos para que eu chorasse. Ela prendeu a respiração. Eu chorei.

Aos quatro anos de idade eu escolhi as Barbies, aos nove anos eu queria meu material escolar todo trabalhado no rosa.  Aos doze anos eu descobri que eu “amava” um garoto. E até hoje... Eu amo os garotos. E em momento algum meu pai exigiu de mim uma atitude feminina ou masculina. Como sei? Aos treze anos de idade ele fez um estilingue para mim e nós saíamos pela roça dele para matar passarinho (DESCULPA DEUS, MAS ALGUÉM TINHA QUE MORRER E NÃO IRIA SER EU OU MEU PAI). Era o nosso “angry birds”.  Jogávamos dominó e um dia, depois de eu tanto implorar, ele me levou para jogar a rede no rio. Para quem não sabe é uma rede de nylon para pegar peixes. E ele jogava de noite para buscar pela tarde do outro dia. Era perigoso para mim, na mente dele, porque eu era uma pré-adolescente. E mal sabe ele que eu queria ir para protegê-lo.

O mundo mudou e está mudando aos pouco, mas estamos quase lá. Leitor, eu nasci menina e tornei-me mulher. Ninguém me ensinou que eu deveria ser mulher e gostar de meninos.  Eu já sabia e nunca tive dúvida disso. Às vezes penso que os homens heteros são corajosos porque mulher complica tudo. Eu complico. Complicada & Perfeitinha.  Sou feliz por não ter dúvidas sobre a minha sexualidade e sou feliz mais ainda quando minha mãe tenta arranjar um namorado para o meu amigo. SIM, ELA ARRANJA NAMORADOS PARA A CIRANDA DE VIADOS E NÃO ARRANJA PARA MIM.  Queria que ela voltasse duas casas no jogo da vida por essa maldade de me deixar nas garras desse amor gostoso.


Não lute contra o que você quer e é. Você não irá para o inferno por amar PORQUE O INFERNO É AQUI, NA TERRA (E COM ESSE CALOR EU NEM PRECISO DIZER QUE TENHO RAZÃO).  Ame a si e quem você quiser, não fique segurando essa barra que é gostar de olhar o colega malhando na academia.  

Um comentário:

  1. Você já pensou em fazer um livro? Porque seus textos são muito bons e acabou de ajudar um amigo meu <3 (eu li e passei pra ele)
    Obrigada por ser essa jornalista fofa que tem um blog que ainda segue o que deveriam ser os blogs: diários e desabafos <3

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