-
Ele é gay?
-
Ele ainda não sabe.
- Eu
acho que ele sabe.
O
que será dito aqui parte de mim, da garota Calincka Crateús. A que escreve para
aliviar o peso do mundo que carrega nas costas. Agora, eu sei que o que mais
oprime um adolescente ou jovem é a luta contra a própria sexualidade.
A
luta contra a sociedade que trata o fato como doença parece não incomodar mais,
pois alguns têm a sorte de ter o amor e apoio dos pais. E quando temos pais do
nosso lado... Não há 300 espartanos que saiam ilesos. O que observo
constantemente é a luta de ser o que não é, o medo de assumir a sexualidade, o
medo de gostar, o medo da família, de que não terá sucesso na carreira que
escolheu por ser gay ou lésbica.
É
uma luta sangrenta, vejo pessoas tristes com relacionamentos forçados para
provar que não é e que não quer ser. Vejo pessoas abrindo mão da própria
felicidade para seguir e sentir-se “normal” como a sociedade quer. Amar alguém
do próprio sexo não é anormal, não é doença, não é desvio de caráter, não é
feio e muito menos errado. É amor. E o
que o mundo precisa é de amor. Não fui criada por painho (meu maior orgulho e minha referência máxima
do que é SER um pai) para “ser menina”. Erraram a ultrassom. Minha mãe passou
nove meses achando que era um menino e preparando o enxoval com verde e azul.
Eu nasci, a minha pediatra (até hoje mainha liga para ela quando há algo de
errado comigo) falou “mãe, erramos. Temos uma menina aqui. E ela não está
chorando”. Além de ser uma menina, minha mãe teve que esperar por cinco minutos
para que eu chorasse. Ela prendeu a respiração. Eu chorei.
Aos
quatro anos de idade eu escolhi as Barbies, aos nove anos eu queria meu
material escolar todo trabalhado no rosa.
Aos doze anos eu descobri que eu “amava” um garoto. E até hoje... Eu amo
os garotos. E em momento algum meu pai exigiu de mim uma atitude feminina ou
masculina. Como sei? Aos treze anos de idade ele fez um estilingue para mim e
nós saíamos pela roça dele para matar passarinho (DESCULPA DEUS, MAS ALGUÉM
TINHA QUE MORRER E NÃO IRIA SER EU OU MEU PAI). Era o nosso “angry birds”. Jogávamos dominó e um dia, depois de eu tanto
implorar, ele me levou para jogar a rede no rio. Para quem não sabe é uma rede
de nylon para pegar peixes. E ele jogava de noite para buscar pela tarde do
outro dia. Era perigoso para mim, na mente dele, porque eu era uma
pré-adolescente. E mal sabe ele que eu queria ir para protegê-lo.
O
mundo mudou e está mudando aos pouco, mas estamos quase lá. Leitor, eu nasci
menina e tornei-me mulher. Ninguém me ensinou que eu deveria ser mulher e
gostar de meninos. Eu já sabia e nunca
tive dúvida disso. Às vezes penso que os homens heteros são corajosos porque
mulher complica tudo. Eu complico. Complicada & Perfeitinha. Sou feliz por não ter dúvidas sobre a minha
sexualidade e sou feliz mais ainda quando minha mãe tenta arranjar um namorado
para o meu amigo. SIM, ELA ARRANJA NAMORADOS PARA A CIRANDA DE VIADOS E NÃO
ARRANJA PARA MIM. Queria que ela
voltasse duas casas no jogo da vida por essa maldade de me deixar nas garras
desse amor gostoso.
Não
lute contra o que você quer e é. Você não irá para o inferno por amar PORQUE O
INFERNO É AQUI, NA TERRA (E COM ESSE CALOR EU NEM PRECISO DIZER QUE TENHO
RAZÃO). Ame a si e quem você quiser, não
fique segurando essa barra que é gostar de olhar o colega malhando na
academia.
Você já pensou em fazer um livro? Porque seus textos são muito bons e acabou de ajudar um amigo meu <3 (eu li e passei pra ele)
ResponderExcluirObrigada por ser essa jornalista fofa que tem um blog que ainda segue o que deveriam ser os blogs: diários e desabafos <3