- Por
favor, Deus não deixe que venha lotado. Eu prometo parar de reclamar daMINHA NOSSA SENHORA, OLHA O TANTO DE GENTE
NESSE ÔNIBUS, MAS QUE DROGA DE VIDA TENHO QUE FICAR RICA LOGO!!!
Rainha
do proletariado e imã de ônibus lotado. Enquanto você reclama porque seu
jatinho particular não chegou, tiro o terço da bolsa implorando por uma cadeira
vazia no ônibus que me levará para casa. E rezando também para não entrar
nenhuma grávida/mulher com criança de colo/ alguém com o pé engessado me olhando
com cara de cachorro abandonado. Sem mencionar que quando a porta do ônibus se
abre na nossa frente, sendo a primeira a subir, esquecemos que um orgasmo é
prazeroso. Ser a primeira a embarcar e achar lugar vazio é como achar dinheiro
na calça suja.
O transporte
público é o melhor ambiente para fingir que ninguém existe. A gente entra no
ônibus mais cheio que sutiã com enchimento e finge que nada está acontecendo.
Finge que não sentiu o cheiro de suor, de gases extremamente fedorentos (dá até
para imaginar o que a pessoa almoçou... meu Deus!!!), a roçada de bunda com
bunda, o estudante que não tira a mochila das costas, e ao passar por você,
quase te levando também. Existe também aquele momento constrangedor em que o
corredor do transporte está tão lotado que você sente a respiração de um
desconhecido na nuca e a gente tenta se esquivar porque estamos em 2014 e não
gostamos de soprinho no pescoço se o cara não for lindo, hetero (essa parte é
muito importante), educado e inteligente. Há tantos personagens em um ônibus e
não consigo entrar em uma bolha e ficar protegida disfarçando que quando alguém
ocupa nosso espaço não é desconfortável. É mais desconfortável que a calcinha
entrando na bunda ou ver um cara, sem nenhuma cerimônia e educação, amassando o
saco na nossa frente.
Ônibus,
metrôs, vans... Transportes lotados porque somos escravos do tempo, dos
impostos, dos juros altos nos impossibilitando ter um transporte particular
(acabei de visualizar meu iate... Momentos!) ou até mesmo uma conscientização
para que pudéssemos usar mais bicicletas, exigir mais ciclovias e segurança
para os ciclistas. É, pedir para o
Brasil virar a Holanda com habitantes ciclistas é como pedir presente fora da
data de seu aniversário: não dá. Mas...
E se... E SE OS MOTORISTAS FOSSEM AO OFTAMOLOGISTAS E FIZESSEM EXAME DE VISTA
PARA OBTER ÓCULOS E ENXEGAR QUE NÃO CABE MAIS NINGUÉM NO ÔNIBUS? Eu acharia
ótimo! Tem motorista que leva a expressão “enfia que cabe” muito a sério.
Suspeito que até tatuam... A minha viagem (sim, é uma viagem porque estudo em uma
cidade e moro em outra) é lenta como o mês de agosto e desagradável como
velório. Em pé, sempre disputando uma barra para se segurar (como se eu também não
tivesse que segurar a barra que é gostar de você) e ainda ter que ouvir (segue
lista) Calcinha Preta, Luan Santana, Aviões do Forró, Psirico, Desejo de Menina
E PRA TERMINAR: PABLO DO ARROCHA. Eu poderia pegar meu fone e ouvir Kings Of
Leon? Poderia, mas qualquer movimento brusco você pode pegar na bunda de
alguém, na mão, nos seios, nas coxas... Eu acho que os Estados Unidos eles
deveriam aderir o corredor do ônibus em vez do corredor da morte. Os criminosos
teriam mais medo, com certeza (até porque ninguém morre de verdade, essa teoria
será explicada em outro texto, livro, muro...).
O
que é uma, duas, vinte pessoas que não gostam de mim perto de um ônibus lotado?
Isso mesmo, nada! É a tortura de cada dia, até quando passo na catraca e o
cobrador solta um “olá morena”. E quando deixam para tirar o dinheiro na hora
de passar na catraca e ficam lá contando moedinhas que você guarda para colocar
no envelope do dízimo? Dá vontade de dizer “minha filha você pode me deixar
passar? Porque eu não acordei do coma pra te esperar contar moeda”, mas li em
um muro que é melhor ter paciência do que ter um B.O e um processinho por
agressão física. Não quero parar na cadeia porque eles nem deixam a gente
colocar um filtro na foto de presídio e não aceitam franja. Passo por isso
quase todos os dias, mas como eu não sou obrigada a ser pobre... Eu vou estudar
ou dar um like no Tinder em um cara com fotos
ostentação... Vai que... Não, melhor estudar mesmo e continuar escrevendo
porque passar por essas situações e ser a última a descer (porque não basta
andar de ônibus, tem que morar no último bairro da cidade que mais parece uma
aldeia esquecida) faz mal ao coração e pra minha franja brilhosa.
E quando está lotado o ônibus e você sabe que qualquer movimento é uma decisão difícil e você sabe naquele momento que sua perna está dormente e ora e jura que na próxima esquina você irá fingir uma inércia e que na curva você irá trocar de lugar, mas o pior é saber que qualquer movimento no ônibus é uma perda, porque, francamente, qualquer lugar no ônibus é um lugar. Levantou a perna, perdeu!
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