13 setembro 2014

Última parada

- Por favor, Deus não deixe que venha lotado. Eu prometo parar de reclamar  daMINHA NOSSA SENHORA, OLHA O TANTO DE GENTE NESSE ÔNIBUS, MAS QUE DROGA DE VIDA TENHO QUE FICAR RICA LOGO!!!

Rainha do proletariado e imã de ônibus lotado. Enquanto você reclama porque seu jatinho particular não chegou, tiro o terço da bolsa implorando por uma cadeira vazia no ônibus que me levará para casa. E rezando também para não entrar nenhuma grávida/mulher com criança de colo/ alguém com o pé engessado me olhando com cara de cachorro abandonado. Sem mencionar que quando a porta do ônibus se abre na nossa frente, sendo a primeira a subir, esquecemos que um orgasmo é prazeroso. Ser a primeira a embarcar e achar lugar vazio é como achar dinheiro na calça suja.

O transporte público é o melhor ambiente para fingir que ninguém existe. A gente entra no ônibus mais cheio que sutiã com enchimento e finge que nada está acontecendo. Finge que não sentiu o cheiro de suor, de gases extremamente fedorentos (dá até para imaginar o que a pessoa almoçou... meu Deus!!!), a roçada de bunda com bunda, o estudante que não tira a mochila das costas, e ao passar por você, quase te levando também. Existe também aquele momento constrangedor em que o corredor do transporte está tão lotado que você sente a respiração de um desconhecido na nuca e a gente tenta se esquivar porque estamos em 2014 e não gostamos de soprinho no pescoço se o cara não for lindo, hetero (essa parte é muito importante), educado e inteligente. Há tantos personagens em um ônibus e não consigo entrar em uma bolha e ficar protegida disfarçando que quando alguém ocupa nosso espaço não é desconfortável. É mais desconfortável que a calcinha entrando na bunda ou ver um cara, sem nenhuma cerimônia e educação, amassando o saco na nossa frente.

Ônibus, metrôs, vans... Transportes lotados porque somos escravos do tempo, dos impostos, dos juros altos nos impossibilitando ter um transporte particular (acabei de visualizar meu iate... Momentos!) ou até mesmo uma conscientização para que pudéssemos usar mais bicicletas, exigir mais ciclovias e segurança para os ciclistas.  É, pedir para o Brasil virar a Holanda com habitantes ciclistas é como pedir presente fora da data de seu aniversário: não dá.  Mas... E se... E SE OS MOTORISTAS FOSSEM AO OFTAMOLOGISTAS E FIZESSEM EXAME DE VISTA PARA OBTER ÓCULOS E ENXEGAR QUE NÃO CABE MAIS NINGUÉM NO ÔNIBUS? Eu acharia ótimo! Tem motorista que leva a expressão “enfia que cabe” muito a sério. Suspeito que até tatuam... A minha viagem (sim, é uma viagem porque estudo em uma cidade e moro em outra) é lenta como o mês de agosto e desagradável como velório. Em pé, sempre disputando uma barra para se segurar (como se eu também não tivesse que segurar a barra que é gostar de você) e ainda ter que ouvir (segue lista) Calcinha Preta, Luan Santana, Aviões do Forró, Psirico, Desejo de Menina E PRA TERMINAR: PABLO DO ARROCHA. Eu poderia pegar meu fone e ouvir Kings Of Leon? Poderia, mas qualquer movimento brusco você pode pegar na bunda de alguém, na mão, nos seios, nas coxas... Eu acho que os Estados Unidos eles deveriam aderir o corredor do ônibus em vez do corredor da morte. Os criminosos teriam mais medo, com certeza (até porque ninguém morre de verdade, essa teoria será explicada em outro texto, livro, muro...).


O que é uma, duas, vinte pessoas que não gostam de mim perto de um ônibus lotado? Isso mesmo, nada! É a tortura de cada dia, até quando passo na catraca e o cobrador solta um “olá morena”. E quando deixam para tirar o dinheiro na hora de passar na catraca e ficam lá contando moedinhas que você guarda para colocar no envelope do dízimo? Dá vontade de dizer “minha filha você pode me deixar passar? Porque eu não acordei do coma pra te esperar contar moeda”, mas li em um muro que é melhor ter paciência do que ter um B.O e um processinho por agressão física. Não quero parar na cadeia porque eles nem deixam a gente colocar um filtro na foto de presídio e não aceitam franja. Passo por isso quase todos os dias, mas como eu não sou obrigada a ser pobre... Eu vou estudar ou dar um like no Tinder em um cara com fotos ostentação... Vai que... Não, melhor estudar mesmo e continuar escrevendo porque passar por essas situações e ser a última a descer (porque não basta andar de ônibus, tem que morar no último bairro da cidade que mais parece uma aldeia esquecida) faz mal ao coração e pra minha franja brilhosa. 

Um comentário:

  1. E quando está lotado o ônibus e você sabe que qualquer movimento é uma decisão difícil e você sabe naquele momento que sua perna está dormente e ora e jura que na próxima esquina você irá fingir uma inércia e que na curva você irá trocar de lugar, mas o pior é saber que qualquer movimento no ônibus é uma perda, porque, francamente, qualquer lugar no ônibus é um lugar. Levantou a perna, perdeu!

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