01 outubro 2014

Encontros e despedidas

- Já vai?
- Já. Fiz o meu papel, entrei em sua vida e fiquei o quanto podia. Tenho que arrancar sorrisos de outras pessoas.

Despedida. Não procurei o significado no livro Barsa e muito menos na internet. A gente nasce sabendo o que é chegar e partir, o que é abraçar e se conformar, receber o último carinho, o último beijo e até tomar o café da manhã com alguém e horas depois receber a notícia de que ela se foi. Não no sentido de ir ao mercado e voltar minutos depois. Caro leitor, é o se foi que não volta nem anos ou séculos depois.

Não falarei sobre quem SE FOI de verdade. Estou aqui para te dizer que precisamos ir porque a vida é feita de quem partiu em um trem, para outra cidade, Estado e até deixando de ser quem era para tornar-se alguém melhor, fazer algo melhor (e infelizmente tornar a nossa vida difícil como o sol de meio-dia derretendo a base da Mary Kay na nossa cara). A vida clama por mudança. A vida é aquela eterna tia que não te olha nos olhos e só quer saber se você fez algo produtivo ao ponto de dar status e dinheiro. Todo mundo tem uma tia assim, um pai, uma mãe ou até mesmo um namorado ou namorada.  Eu tenho me despedido discretamente de algumas pessoas, talvez elas percebam, talvez nem se incomodem em perceber e eu nunca percebi o quanto se desapegar é deliciosamente maravilhoso... Quase um orgasmo, só que bem melhor porque a gente não precisa dar satisfação ou explicação... É só permitir que coisas, pessoas e situações passem por nós sem que nos demoremos demais nelas.  Sem seguir com os olhos até que elas desapareçam.

Muitas vezes precisamos largar a mão de alguém para andar mais rápido, para não perder o vôo que te levará para onde você deseja ir. Esse “se foi” é aquele momento que selecionamos quem, em sincronia, anda ao nosso lado e lhe acompanha com passos largos porque não quer ficar para trás. Está ali para no dia da queda te levantar e no dia da vitória te parabenizar com orgulho. Você tem esse alguém, todos possuem um alguém que não se foi e nem irá porque muitas vezes te puxa para frente e vocês dois correm.

Pode se despedir leitor, eu sei que um dia já pensamos que não conseguiríamos  largar a mamadeira, choramos por ela ao pensar que nunca mais teríamos a ilusão do seio da nossa mãe. O medo da perda, da proteção. E aqui estamos, muitos independentes, longe dos pais, crescidos e com opiniões formadas, com a resposta na língua, sem chorar e sem correr para os braços da mãe (no meu caso é de mainha). A gente se despede da calça de numeração 38 para vestir a de 40 (PIOR DESPEDIDA, SENHOR POR QUE FAZ ISSO? NÃO BASTAVA SER POBRE... tem que vestir 40?), nos despedimos de amigos que foram estudar fora, dos que passaram só uma temporada e de outros que passaram só um dia. Tem a despedida de quem sentou ao nosso lado no avião, tem a despedida do espanhol que te parou no aeroporto para pedir informação, a despedida da bolacha que caiu com o recheio virado para o chão, A DESPEDIDA DA ACETONA QUE VOCÊ DERRUBOU E FALTAVA TIRAR O ESMALTE DA MÃO DIREITA, tem a despedida da série preferida (me abraça que suspirei fundo), a despedida de Bell Marques comunicando que iria deixar o Chiclete Com Banana (arrasada até hoje, fiquei uma semana de cama) e a melhor despedida que é: a solidão.


São tantos encontros e tantas despedidas, mas não ouse pensar que ninguém fica em nossa alma porque muitas vezes o papel de um encontro com pessoas, com uma religião ou com um livro é para nos marcar e transformar. O meu primeiro contato com algum livro surpreendente foi eternizado na minha vida, do mesmo modo quando alguém entra e sai. Não se engane leitor, esse ciclo é o que torna a vida suportável e as piores pessoas? muitas vezes passam por nossas vidas para nos ensinarem a não ser como elas. 

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