29 agosto 2014

Amizade e amor líquidos

- Curte aí minha foto, por favor.
- Não estou curtindo nem as minhas e vou curtir a sua? Não, né?
(desfazer amizade)

Começo dizendo que Bauman em Amor Líquido tinha completamente razão. A razão de achar que hoje em dia os relacionamentos são flexíveis, terminados em apenas um clique e começados em outro. A paquera torna-se mais interessante pela rede mundial de computadores do que trocar olhares ou receber guardanapos com recados mandados por outro alguém que está em outra mesa.

Acabamos obcecados em decifrar o motivo de aquele cara não nos responder rapidamente no whatasapp ou visualizar nossas mensagens e não responder. Enlouquecemos mais com uma mensagem visualizada e não respondida do que assistir uma notícia de um crime hediondo noticiado em todos os jornais. Será que o ser humano esqueceu-se de separar o virtual da vida real? Será que é melhor chamar atenção de uma pessoa com sua inteligência e a forma de deixar o ambiente descontraído em vez de sair comentando e curtindo tudo só para ser “vista”? E a aceitação? Onde está a aceitação de que nem sempre alguém vai concordar com sua opinião virtual? Quando isso acontece é só clicar em DESFAZER AMIZADE E PONTO FINAL.

Podemos desfazer amizade na vida real? Não, não podemos. E é por esse motivo que vivo pacificamente entre os dois mundos. DESFAZER AMIZADE somente quando há pessoas que: estão ocupando espaço, são insuportáveis, intolerantes e andam espalhando falácias com meu nome no meio enquanto fico aqui mastigando meu cuscuz com leite. Você não me verá falando mal de alguém que nem conheço e nunca vi. Talvez a pessoa seja legal fora da internet, talvez a internet seja a válvula de escape dela... E eu não me meterei em momento algum enquanto não ser chamada (ou marcada em um post no facebook). Há tanta gente que é legal na internet e um porre na vida real. Sofre de carência (eu), precisa a todo momento chamar atenção, nem que seja com a foto da bolsa transparente que acabou de comprar...

Tudo bem, eu não sei o que a Demi Lovato passou... E vocês também não sabem o que passei (um monte de roupa ontem), mas isso não significa que devo vendar os olhos e sair chutando aleatoriamente. A gente tem que se cuidar, fisicamente e psicologicamente antes de deixar alguém mergulhar na nossa loucura (tomar banho de piscina na madrugada para se sentir Lana Del Rey). Fazemos mais questão de um comentário em uma foto nossa do que uma carta com passagens. Onde foi parar as ações românticas? Foram modernizadas também? Uma amizade se quebra assim que o outro começa a lidar com alguém que o magoou. É isso? Bloquear, excluir, não responder... O amor está resumido nisso? Em cliques?  E o ato e necessidade de tratar o outro como objeto? Como bonequinho para segurar a mão e dizer “vamos ao shopping para que todos vejam que você é meu”. 


Eu, Calincka, estou parada no tempo em que recebia e enviava cartas. Eu não quero alguém só para dizer que “tenho alguém”. Quero alguém para dançar comigo ao som de Light Me Up da Birdy. Quero mais alguém que me mande mensagens pela madrugada do que alguém que curte posts, fotos, status, cutuque no facebook... Quero alguém que se preocupe com o “nós” em vez de o “NÓS PARA OS OUTROS”. Ficar chateada porque ele não curtiu algo que fiz ou postei? Meus amigos e amores de verdade não são assim. Eles farejam um problema a longa distância e mandam um “eu te amo” ao sol de meio dia o qual mal posso enxergar a mensagem. Eles não precisam ser sufocadores e presentes no que faço nas redes sociais porque já estão presentes no meu coração e sabem que podem contar comigo. No momento eu não sei o que anda acontecendo com eles, não por ser indiferente ou uma péssima amiga. É que todo mundo guarda um tempo para si mesmo e não acha necessário contar ou preocupar, faço o mesmo. E sigo, sigo esvaziando os bolsos de problemas para abraçar e iluminar os amigos e amores (parece que tenho vários, mas só tenho um e quero parecer desejada) e deixando a carência e o papel de vítima de lado. Porque ser um fardo não é legal. 

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