27 agosto 2014

Sabotagem

- Oi? Está ocupado?
- Estou.
- GRAÇAS A DEUS PORQUE IA TE CHAMAR PRA SAIR, MAS VOCÊ ESTÁ OCUPADO!!! OBRIGADA SENHOR. VOU REZAR. BJS.

Eu ando olhando para o chão por três motivos: o primeiro é que estou procurando dinheiro, o segundo é para não pisar em falso, mesmo andando de Havaianas e, o terceiro é para não fazer contato com nenhuma versão nordestina de Adam Levine.

Motivos para evitar contato visual com alguém que me interessa? Senta que lá vem a lista. Quer por ordem alfabética ou cronológica? Primeiro, é importante dizer que tenho váaaaaaaarios motivos decentes para apresentar. Se estiver em uma festa e perceber que estou sendo paquerada (nunca percebo porque sempre creio que é a minha imaginação ou a bebida e dou graças a Deus), eu costumo fingir que não é comigo. Isso mesmo! Vou andando sem olhar para trás e entrelaço minha mão na mão da minha amiga, mandado o recado “sou lésbica” ou do meu amigo mandando o lembrete “já tenho dono”. E como meus amigos são extrovertidos... Fazemos bem os papéis em nível OSCAR DE MELHOR ATUAÇÃO.

Se o cara chegar até mim e disser “posso te conhecer?” eu fico lisonjeada pela coragem e interesse, mas é nessa hora que passa um filme chamado “MELHOR NÃO”, dirigido por Guillermo del Toro, que é especialista em filme de fantasia sombrio. O filme começa com um cara bonito e simpático se aproximando e termina com a protagonista, chamada Calincka, em cima de uma cama rasgando cartas de amor e odiando a cantora Dido porque “Thank You” era a trilha sonora dos dois. Volto à realidade e respondo (rezando para ele não saber falar em Espanhol. Geralmente não sabem, pois os caras das redondezas preferem pagar o FORRÓ DO SFREGA que um cursinho...) em espanhol: No entiendo. Y yo no estoy aquí.


Eu entro na paquera e alimento até o momento em que está confortável para mim. Quando as palavras “te ver”, “ir”, “você vem” e “namorar” são lidas (isso mesmo, lidas. Porque paquero com pessoas extremamente longes para não correr o risco de nos bater em uma festa, ele baixar no meu portão ou ter que encarar um encontro) eu simplesmente digo que tenho câncer terminal e não consigo continuar com a paquera pois estaríamos encenando A Culpa é das Estrelas. Só que eu morro no final. Sou exagerada, né? Que graça teria se minhas mentiras fossem normais? É padrão FIFA mesmo! Com risco de imprimir um exame, digitalizar, baixar e enviar só para a pessoa me deixar em paz. Falaram-me que o que faço é sabotagem. Fiquei ofendida, mas depois concordei. Eu saboto qualquer tipo de aproximação onde eu possa terminar chorando ou fazendo escalas. Eu continuarei sabotando, não por achar divertido (muitas vezes é e sinto prazer) ou por medo... É que não tenho mais idade para ter encontros e esperar ligações que não acontecem, nem rezando o Terço da Misericórdia. Então saboto. Arrependo-me? Um pouco, mas tomo banho com sabonete líquido esfoliante e sai tudo na água. Não adianta, eu ouço um coro de aleluia quando nada (que seja relacionado com a minha pessoa e outra pessoa a sós) dá certo. Saboto no Tinder, saboto na rede mundial de computadores e saboto na vida. Se sabotar relacionamentos fosse crime... Eu estaria vestida TODA LINDA DE VALENTINO LARANJA na penitenciária. Acusada por falsificar exame para mostrar que estava com câncer terminal e tráfico de “tenho namorado” além de responder por iludir. 

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