12 agosto 2014

Viajar

- Moça quer alguma coisa?

- Só quero que a turbulência passe porque eu quero ler o sexto livro de As Crônicas de Gelo e Fogo, assistir o filme Se Eu Ficar e acompanhar a carreira de Kings Of Leon. Ah, arranjar um marido e ter um bebê que chamarei de Calincko.

Eu amo viajar. Amo entrar na sala de embarque e pensar “posso ser quem eu quiser e ver o que eu quiser”. Assim como navegar é preciso, viajar também é. Eu sou a que senta ao lado de uma pessoa e pergunto “qual é a sua história?”.
Colho belíssimas narrativas, tristes, alegres, engraçadas e algumas esperançosas como a minha. E essa história que vou contar é engraçada por dois motivos: eu passando vergonha (para variar) e o australiano que participa de uma ONG em Salvador achando que eu era mal educada. 

Lá estava Calincka, fazendo escala, com tédio e jogando no celular. Uma cena normal, para quem viaja todo santo ano. Envolvida por uma bolha, eu estava concentrada no meu jogo, Angry Birds (perdendo mais que o Brasil contra a Alemanha). Simplesmente não olhei para o meu lado quando sentaram, só quando ouvi o sotaque americanizado/inglês/diferente dos brasileiros.

Olhei para o lado e NOoOooOoOooOooossa, mas que belo dia para um loiro gato sentar ao meu lado. Ele falou “gosto desse jogo, quer?” e levantou a mão me mostrando um chokito. Recusei balançando a cabeça ficando muda por não saber o que dizer. Na verdade, eu sabia o que dizer. Queria dizer que talvez ele tivesse colocado algo no chokito e depois me levasse para um local onde pudesse tirar meus órgãos para vender. Eu já disse que sou dramática, mas eu realmente estava assustada. Ele tirou uma garrafa com água da mochila e mais uma vez me ofereceu, “aceita?” “Não, obrigada.” Ele ficou me olhando e disse “Você é tímida? Você parece o pessoal do amazonas.” Eu tive que rir. “Não sou tímida. Fiquei assustada porque nunca ninguém me ofereceu nada no aeroporto (mentira, eu tava com medo de ser drogada) e nenhum cara bonito sentou ao meu lado (essa parte saiu sem eu raciocinar).

E foi aí que ele perguntou a minha vida toda e se eu gostaria de conhecer a Austrália com ele.  E foi aí que pensei “é, ele quer tirar meus órgãos ou me colocar na prostituição”. Respondi tudo na mentira e disse que era comprometida. Soltei “Darren, qual é a sua história?”. Ele me fez rir até chorar porque ele era GAY (mas mesmo assim isso não o impediria de tirar meus órgãos) veio ao Brasil visitar o namorado de Salvador (eu imaginei a sextape dos dois, pois pelo o que ele me descreveu o namorado era gato também) e arrecadar fundos para uma ONG em Salvador que tira crianças da rua.

Fiquei encantada ao ponto de querer dizer que sou doadora de órgãos. Ele ia para Guarulhos, e como toda comunicação em aeroportos são passageiras, nos despedimos e eu nunca esqueci Darren e o susto que ele me deu sendo educado. É isso o que acontece quando a gentileza acaba e nos acostumamos com a falta de educação. 

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