25 julho 2014

A Vida

Eu sei que a vida não está fácil para ninguém.

Essa ordinária, que só complica quando você pensa que conseguiu montar o cubo mágico. A vida quebra seu salto no meio de um baile, faz você chorar quando está toda linda de Valentino, é a criança fazendo escândalo no meio do shopping, é o sorvete caindo no chão, é a bolacha quebrada do pacote. É o vento bagunçando seu cabelo na hora que passa aquele cara gato, é o ônibus que demora para chegar e ainda vem lotado, é a mulher cheia de sacolas que senta ao seu lado, é o cara do Tinder que só quer ver seus peitos ou transar, é o cara que é a sua alma gêmea só que mora longe, é a pessoa que baixa a música Quelqu'un M'a Dit da Carla Bruni para colocar como toque do celular, é aquele ser humano que não conhece o fone de ouvido e escuta Wesley Safadão dentro do transporte público, é o cachorro que mija no seu sofá para marcar território, é o arroz que queimou.

A vida é essa Rachel Sheherazade que ninguém está suportando, é esses conflitos na Faixa de Gaza que nos deixa sem poder fazer nada para proteger os inocentes, é a morte de escritores importantes e a ressurreição de políticos, é o tempo que a gente perde achando que o príncipe vem nos beijar em nosso leito (sendo que o príncipe beijou umas vinte bocas em uma festa chamada Forró do Sfrega), é a friendzone, é a espera de um milagre, é o mergulho no mar em que você volta sem a parte de cima do biquíni (sim, já aconteceu), é esse sexo sem preliminares.

É a vontade de ser beijada com paixão em um elevador e voltar para a realidade percebendo que está sozinha. É o livro que você comprou sem saber que ia chorar mais que recém-nascido com fome, é o feijão no pote de sorvete, é a franja torta porque você tentou cortar sozinha, é o namorado da amiga dando em cima de você, é o presente horroroso no amigo secreto, é achar que está bem e durante a noite chorar em silêncio.

A vida é esse guarda-roupa da Regina Casé: ninguém quer. É estacionar no meio da rua, ser invisível em uma festa, se contentar com os “felizes para sempre” nos livros e filmes. É chorar assistindo A Culpa é das Estrelas e pensar que até uma menina que tem câncer pode ter um namorado e você não.

Ahhh, a vida! 

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