Eu, a rainha do proletariado, que pega ônibus
todos os dias, voltando da faculdade com as teorias do jornalismo na cabeça e
tremendo ao pensar na medusa da vida real: o TCC. Eu que sento no
fundo do ônibus para ser assaltada por último (e apagar as nudes antes de entregar o celular ao ladrão) e observar quem sobe e
quem desce, vai que é bonito, vai que me quer... Sim, sonho mais que Alice no
País das Maravilhas.
Eu que coloco meu fone de ouvido e perco o foco
em tudo que está acontecendo dentro do transporte para sentir as batidas e o
ritmo contagiante da música Counting Stars do OneRepublic...
Não imaginava que o celular descarregaria e que seria uma viagem para casa
diferente, com pré-adolescentes tagarelando sem parar sobre provas, professores
e meninos. Eu estava tão chateada por ter que ouvir conversas que tive vontade
de jogar o celular pela janela. A BATERIA DO ANDROID PARECE A MINHA FELICIDADE
E O DINHEIRO NA MINHA MÃO: dura pouco. Bem, sem querer querendo fui ouvindo o
burburinho que não cessava. O ônibus faz a sua quarta parada em frente a uma
faculdade. Universitários descem e sobem, preenchendo os lugares vagos.
Com o ônibus ainda parado, duas
pré-adolescentes do grupinho que não paravam de falar sentam-se na cadeira que
estava na minha frente e com a maior normalidade começam a cochichar. Eu paro
de prestar atenção nelas e olho pela janela onde DOIS RAPAZES COM CARA DE
DEUSES GREGOS E PROVAVELMENTE CHEIRANDO A KAIAK EXTREMO (SIM, EU IMAGINO O
CHEIRO DAS PESSOAS) estão conversando naturalmente. Fico olhando para eles e é
nesse momento que as duas meninas gritam para eles “GOOSSSSTOOOOOOOOOSOS” e se
abaixam. E aí? Aí que eles olham para mim e eu olho para eles de volta, querendo
dizer que eu não gritei, mas que concordava com as meninas... Resolvi então sofrer
calada, pedindo que o motorista saísse logo daquele lugar onde fui acusada
mentalmente por uma coisa que não fiz (mas se tivesse 14 anos faria).
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK morta
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